O INCRÍVEL CASO DA MÚSICA QUE ENCOLHEU E OUTRAS HISTÓRIAS

Instituto / Ultramen / Luiz Vagner (2002)

2002
Sum Records
Crítica

Cotação:

É difícil botar rótulos neste novo trabalho do Ultramen - o que, afinal, não deixa de ser uma qualidade. Em sua encarnação anterior, a banda gaúcha investia suas fichas num rock meio amorfo, inspirado tanto no natimorto Miami rock quanto no cruzamento entre suingue funkeado e peso. O espanto toma conta do ouvinte já na primeira faixa deste novo álbum: nada menos que um samba-rock! Maior é o espanto ao notar-se que, ao longo do CD, o ecletismo sônico dá as cartas. De maneira imprevisível a julgar por seu trabalho anterior, o octeto demonstra uma vocação irresistível para variar ritmos e estilos. Quem já tinha má vontade com a banda, poderia desistir do disco de primeira, julgando os caras oportunistas. Recomendo, entretanto, maior discernimento. Por trás do blá-blá-blá e da pose de malandragem sulista, parece haver substância no troca-troca sonoro do Ultramen. Não seria difícil, por exemplo, enxergar paralelos entre a banda e o trabalho de contemporâneos como Wado e o Stereo Maracanã - no sentido em que ambos recuperam uma certa tradição suingueira da nossa música e a submetem a um tratamento pop. A variedade de estilos pode desorientar um pouco, e nem todas as idéias da banda acabam dando certo (algumas parecem forçadas). Mas no cômputo geral, o Ultramen soa sério - não no conteúdo, mas na intenção.

Resta saber o quanto a produção do figurinha carimbada Daniel Ganja Man (mais a rapaziada esperta do coletivo Instituto) influiu na mudança de rumos da banda. Não que isso importe muito, já que o som funciona e muito bem. No rap Erga Suas Mãos, com participação da dupla Manos do Rap, a influência de Ganja Man na formatação do som fica mais clara. O tal samba-rock da abertura (Santo Forte, temperada com metais e backing vocal feminino) evolui para explorações mais sutis da black music brazuca - evidentes no soul brasileiríssimo de Alto e Distante Daqui e no suinguinho leve de Justiça Divina. O Ultramen também exibe propriedade ao investir no reggae. Máquina do Tempo, De Canto e Sossegado (esta com direito a uma escaletinha bem Augustus Pablo, misturada a scratches e guitarradas) e Coisa Boa - com a participação do legendário sambarroqueiro Luís Vagner - são alguns dos exemplos. O resquício do som quase-pesado de antes assombra Confessionário (quase um thrash-core) e a bizarra vinheta Fantasma. Talvez por acaso essas duas últimas soam menos interessantes. Noves fora, o Ultramen contraria o próprio título do disco e apresenta uma música que cresceu, ao invés de encolher.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Santo forte Ouvir
(Ultramen)
2 Alto e distante daqui Ouvir
(Ultramen)
3 "3" Ouvir
(Ultramen)
4 Máquina do tempo Ouvir
(Ultramen)
5 De canto e sossegado Ouvir
(Ultramen)
6 Confessionário Ouvir
(Ultramen)
7 Erga suas mãos Ouvir
(Tonho Crocco, Ultramen, Curumim, Du)
8 Coisa boa Ouvir
(Luis Vagner, Ultramen)
9 Fantasmas Ouvir
(Ultramen)
10 Justiça divina Ouvir
(Tonho Crocco, Ultramen, Malásia, Marcito)
11 Grama verde Ouvir
(Bedeu, Leleco Telles, Ultramen, Alexandre)
12 Oigalê Ouvir
(Ultramen)
13 Máquina do tempo (Dub Mekka Victor Rice Remix #4) Ouvir
(Ultramen)
 
O INCRÍVEL CASO DA MÚSICA QUE ENCOLHEU E OUTRAS HISTÓRIAS