O INCRÍVEL CASO DA MÚSICA QUE ENCOLHEU E OUTRAS HISTÓRIAS
Instituto / Ultramen / Luiz Vagner (2002)
2002
Sum Records
0549-2
Crítica
Cotação:
É difícil botar rótulos neste novo trabalho do Ultramen - o que, afinal, não deixa de ser uma qualidade. Em sua encarnação anterior, a banda gaúcha investia suas fichas num rock meio amorfo, inspirado tanto no natimorto Miami rock quanto no cruzamento entre suingue funkeado e peso. O espanto toma conta do ouvinte já na primeira faixa deste novo álbum: nada menos que um samba-rock! Maior é o espanto ao notar-se que, ao longo do CD, o ecletismo sônico dá as cartas. De maneira imprevisível a julgar por seu trabalho anterior, o octeto demonstra uma vocação irresistível para variar ritmos e estilos. Quem já tinha má vontade com a banda, poderia desistir do disco de primeira, julgando os caras oportunistas. Recomendo, entretanto, maior discernimento. Por trás do blá-blá-blá e da pose de malandragem sulista, parece haver substância no troca-troca sonoro do Ultramen. Não seria difícil, por exemplo, enxergar paralelos entre a banda e o trabalho de contemporâneos como Wado e o Stereo Maracanã - no sentido em que ambos recuperam uma certa tradição suingueira da nossa música e a submetem a um tratamento pop. A variedade de estilos pode desorientar um pouco, e nem todas as idéias da banda acabam dando certo (algumas parecem forçadas). Mas no cômputo geral, o Ultramen soa sério - não no conteúdo, mas na intenção.
Resta saber o quanto a produção do figurinha carimbada Daniel Ganja Man (mais a rapaziada esperta do coletivo Instituto) influiu na mudança de rumos da banda. Não que isso importe muito, já que o som funciona e muito bem. No rap Erga Suas Mãos, com participação da dupla Manos do Rap, a influência de Ganja Man na formatação do som fica mais clara. O tal samba-rock da abertura (Santo Forte, temperada com metais e backing vocal feminino) evolui para explorações mais sutis da black music brazuca - evidentes no soul brasileiríssimo de Alto e Distante Daqui e no suinguinho leve de Justiça Divina. O Ultramen também exibe propriedade ao investir no reggae. Máquina do Tempo, De Canto e Sossegado (esta com direito a uma escaletinha bem Augustus Pablo, misturada a scratches e guitarradas) e Coisa Boa - com a participação do legendário sambarroqueiro Luís Vagner - são alguns dos exemplos. O resquício do som quase-pesado de antes assombra Confessionário (quase um thrash-core) e a bizarra vinheta Fantasma. Talvez por acaso essas duas últimas soam menos interessantes. Noves fora, o Ultramen contraria o próprio título do disco e apresenta uma música que cresceu, ao invés de encolher.(Marco Antonio Barbosa)
Resta saber o quanto a produção do figurinha carimbada Daniel Ganja Man (mais a rapaziada esperta do coletivo Instituto) influiu na mudança de rumos da banda. Não que isso importe muito, já que o som funciona e muito bem. No rap Erga Suas Mãos, com participação da dupla Manos do Rap, a influência de Ganja Man na formatação do som fica mais clara. O tal samba-rock da abertura (Santo Forte, temperada com metais e backing vocal feminino) evolui para explorações mais sutis da black music brazuca - evidentes no soul brasileiríssimo de Alto e Distante Daqui e no suinguinho leve de Justiça Divina. O Ultramen também exibe propriedade ao investir no reggae. Máquina do Tempo, De Canto e Sossegado (esta com direito a uma escaletinha bem Augustus Pablo, misturada a scratches e guitarradas) e Coisa Boa - com a participação do legendário sambarroqueiro Luís Vagner - são alguns dos exemplos. O resquício do som quase-pesado de antes assombra Confessionário (quase um thrash-core) e a bizarra vinheta Fantasma. Talvez por acaso essas duas últimas soam menos interessantes. Noves fora, o Ultramen contraria o próprio título do disco e apresenta uma música que cresceu, ao invés de encolher.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas