O MEIO
Luiz Tatit (2000)
Crítica
Cotação:
Luiz Tatit não está nem aí se suas composições não possuem refrões capazes de colar nos ouvidos do público, muito menos preocupa-se em utilizar samples ou levadas de drum’n’bass para que elas soem mais moderninhas. O Meio deixa claro desde sua primeira faixa que o ex-membro do grupo Rumo está interessado, antes de tudo, na integridade de suas canções e idéias. Não foi à toa que ele decidiu iniciar o CD com a canção que lhe dá título, justamente a mais inusitada e conceitual das 13 gravadas. “Se todo começo é assim / o melhor do começo é o seu fim / um dia ainda há de chegar / em que todos irão conquistar / um meio pra não começar”, diz ele na letra, divagando com erudição e humor sobre as desvantagens dos inícios. Um tema insólito que passa ainda pelas regravações das hilariantes Trio de Efeitos (“sempre fui médio / é o meu dom / e o meu tédio”) e Essa É Pra Acabar (“essa é pra acabar / foi feita só pra isso / é pra lembrar vocês / que existem outros compromissos”), ambas da época do Rumo. Auto-referentes também são As Sílabas (“cantiga diga lá / a dica de cantar / o dom que o canto tem / que tem que ter se quer encantar”) e Batuqueiro (parceria com Ná Ozzetti), que discorrem sobre o fazer musical e sua eficácia. Há ainda deliciosas canções de caráter mais narrativo, como Amor e Rock (“amor tão rápido dá choque / suspende esse amor heavy / e manda um rock”), que distingue com graça diferentes ritmos nas relações amorosas, ou a regravação de Esboço, a epopéia de um insólito personagem pelos bairros de São Paulo, que ressurge mais viva graças ao brilhante arranjo para orquestra de Ricardo Breim e Hermelino Neder. Aliás, nesse aspecto, destacam-se também os arranjos de cordas escritos por Fábio Tagliaferri, que combinam beleza e eficácia. Com O Meio, Tatit nos lembra algo que parece cada vez mais esquecido nos últimos tempos: a música popular não existe somente para se dançar. A de Tatit, especialmente, faz pensar e sorrir.(Carlos Calado)
Faixas