O SUBMARINO VERDE E AMARELO
Vários Intérpretes (2000)
Crítica
Cotação:
Logo que se abre o encarte do CD O Submarino Verde e Amarelo, em que vários nomes da MPB e do pop nacional relêem ao vivo a obra dos Beatles, nos deparamos com um aviso dizendo que "este é um projeto de caráter assistencial com recursos destinados à Aminca – Associação dos Amigos do Instituto Nacional do Câncer". Qualquer iniciativa é louvável para angariar fundos a fins tão louváveis. Mas, francamente, em termos musicais o disco é de se sair correndo. Porque, normalmente, quando se faz um álbum de releituras, imagina-se que as novas versões possam acrescentar algo às originais. Nesse disco, o que se ouve são covers pouco expressivos de clássicos do grupo. Como farra ou como show, sem maiores pretensões, o evento pode até ter sido divertido (com os beatlemaníacos na platéia, vibrando) até porque grande parte da MPB bebeu muito na fonte dos quatro rapazes de Liverpool. E nada mais justo que se promover um show revivendo esse repertório. Mas daí a transformar isso em disco, vai uma longa distância. À exceção de João Bosco, que realizou em estúdio uma versão bem pessoal, de voz e violão de Because (mas nada também de excepcional), todas as outras versões nada acrescentam às originais. Ao contrário, algumas depõem contra. Fernanda Takai com seu fiapo de voz vacilante destrói Till There Was You, Zé Ramalho soa anacrônico com sua inflexão à la profeta do apocalipse em In My Life (outra também gravada em estúdio). Já Roberto Frejat (Revolution), Beto Guedes (Nowhere Man), Zizi Possi (The Long and Winding Road), Flávio Venturini (Penny Lane) e Zélia Duncan (Martha My Dear) também não conseguem fazer nada de muito instigante com seus números. Samuel Rosa do Skank até que surpreende apresentando uma voz mais digerível cantando em inglês do que em português, e convence com seu cover de Ob-La-Di Ob-La-Da, mas nada também que valha a compra do disco. Finalmente, mesmo com a voz cortante e sua energia contagiante, Cássia Eller não chega a ser mais original em Gloden Slumbers do que Elis Regina fora em sua recriação cool há 30 anos. Ainda assim é das poucas que parece ter tentado fazer algo de mais pessoal em sua interpretação. Há ainda duas faixas em que todos os artistas cantam em coro – Twist and Shout e All You Need Is Love – sobre as quais é melhor não comentar. Resumindo: em meio a esse mar de mesmice, vale mais fazer um depósito na conta da Aminca do que comprar o CD.
(Rodrigo Faour)
Faixas