OKOLOFÉ
Wilson Moreira (2000)
2000
Independente
WM99
Crítica
Cotação:
Distorções perversas da cultura brasuca. Um artista do povo sem acesso a seu público natural tem um disco gravado por um produtor/fã japonês (Katsunori Tanaka) que consegue lançá-lo em seu país, em 1989. Mais de dez anos depois, o disco finalmente desembarca na terra natal do sambista Wilson Moreira – mesmo assim, numa tiragem quase simbólica. O que o ex-carcereiro e refinado mestre do batuque canta de tão absurdo que mereça tamanho exílio e um cerceamento maior que o da época da ditadura militar? Nada além de apetitosos sambas além do tema afro do título, composto em homenagem ao falecido ator Grande Otelo. Logo no partido de abertura, Formiga Miúda, Zeca Pagodinho versa com Wilson, naquele duelo típico de bambas do assunto. Shopping Samba derrama veneno sobre os mercadores que transformaram o ramo num cabide de ternos Armani. Exaltações ao gênero de raiz (Benção dos Santos, Meu Canto Alto) e à co-irmã Mangueira (o portelense Wilson foi um dos fundadores da Mocidade Independente) em Eterna Mangueira e outros duetos com Délcio Carvalho (Belo Encontro, Foi Tão Bonito a Gente Se Amar) e Luís Carlos da Vila (Navio Desengano, Minha Confissão) adensam o disco que a malícia do também falecido Mestre Marçal apimenta em Abrolhos da Vida. Há até uma rural Canção do Carrero. O desfile fecha com o sucesso de Wilson em parceria com Nei Lopes, Senhora Liberdade. Papa fina demais para o angu de caroço do atual mercado musical.
(Tárik de Souza)
Faixas
Shopping samba (Wilson Moreira-Marcos Paiva)
Belo encontro (Wilson Moreira)
Minha confissão (Wilson Moreira)
Cordialmente ao povo (Wilson Moreira)
Senhora liberdade (Wilson Moreira-Nei Lopes)
Senhora liberdade (Wilson Moreira-Nei Lopes)