OQUELATÁ QUELATEJE

O Fato é um grupo vindo do Paraná que debuta em disco com este curioso Oquelatá Quelateje - trabalho que incursiona, de forma destemida, pela senda do experimentalismo. A partir de influências legadas por sons regionais (a destacar, o fandango típico do Sul do país), o octeto conjuga uma complexa salada musical, que exige disposição bem maior do ouvinte do que a sonoridade média da nova geração emepebística. Em uma primeira audição, parece evidente a filiação do Fato à estética legada pela dita vanguarda paulista; ecos desta vanguarda se ouvem nas composições intrincadas, nos arranjos variados e não-convencionais e nas letras que brincam de leve com o concretismo. Outras nuances e influências vão surgindo aos poucos, porém, compondo um panorama menos óbvio. Como a inserção de citações musicais radicalmente distintas (interpretadas pelo grupo ou via sampler), e principalmente a ênfase na força percussiva; todos os integrantes se revezam também nos batuques. Enfim, um disco "complicado" de se ouvir, mas que passa a impressão de uma inquietação genuína em sua experimentação - e não apenas de um bando de malucos batendo lata sem rumo para ver no que vai dar.

A porção vanguardeira do grupo se manifesta forte em músicas como Istmo e A Língua por Ela Mesma, e mesmo na insuspeita Encharque (pop-rock de harmonia complicada e melodia quebrada). E também nas canções levadas pela cantora Babi Farah (como Valadares, que conjuga guitarras distorcidas e percussão em primeiro plano) - a voz da moça tem parentesco com divas paulistas como Vânia Bastos ou Ná Ozzetti. Por falar em vocais, os arranjos de voz do disco também merecem destaque. Tanto em momentos claramente experimentais, como em Vozes (baseada em colagens de vocais sobrepostos) como em passagens mais sutis (Beira do Samba, com a voz de Babi dobrada e "passeando" pelos canais do estéreo), o produtor Rodolfo Stroeter valorizou bastante as gargantas do Fato. A outra tônica dominante do disco é a percussão. Esta domina faixas tão distintas quanto Kismet, e seu batuque explícito, e Morrer de Bem ou Foz, guiadas de forma sutil por uma rica tapeçaria percussiva. (Marco Antonio Barbosa)