OS GRANDES CANTORES DO RÁDIO

Vários Intérpretes (2000)

2000
Crítica

Cotação:

Até os anos 50, os intérpretes masculinos da MPB, de uma forma geral, primavam pela voz encorpada, com forte influência lírica. Até mesmo os sambistas cantavam com certa pompa – mas é que grande parte do repertório pedia cantores desse gênero. A coletânea Os Grandes Cantores do Rádio nos traz um panorama musical da primeira metade do século, cujos campeões de popularidade foram Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Cauby Peixoto. Outros nomes de sucesso foram Vicente Celestino, Silvio Caldas, Jorge Goulart, Ivon Curi, o grupo 4 Ases e 1 Coringa e os sambistas Ciro Monteiro e Jorge Veiga. Isso sem contar o atemporal Dorival Caymmi. Vamos por partes: Chico Alves, o Rei da Voz, começou no fim dos anos 20, mas a valsa escalada, Serra da Boa Esperança (Lamartine Babo), foi um de seus últimos fonogramas gravados, antes de sua morte, em 1952. Orlando Silva, o Cantor das Multidões – inspirador inicial de João Gilberto, Cauby, Goulart e tantos outros – teve seu auge entre 37 e 42. Coqueiro Velho (Ary Barroso) é justamente desse período (40). Nelson começou em 1941 e tem seu sucesso inicial, o fox-canção Renúncia (42), capturado nessa seleção, porém numa versão rara. Cauby começou a fazer sucesso em 54, com um estilo derramado e envolvente, gravando maravilhas e porcarias. O samba-canção Nono Mandamento (58) foi um grande sucesso e uma das mais bregas de sua carreira, mas a melodia é inesquecível, parece um fado. Na mesma seara popular, a voz macia de Ivon Curi serviu a canções francesas, baiões e bobagens históricas como esse O Retrato de Maria (59), em que ele canta imitando bêbado, chorando ao olhar a fotografia de sua amada. Silvio Caldas, o Caboclinho Querido, gravou muito, mas seu auge foi nos anos 30 e 40, quando lançou dois clássicos da MPB de autoria de Custódio Mesquita, Promessa (com Mário Rossi) e Mulher (com Evaldo Ruy). O decano Vicente Celestino é da época da gravação manual, em que só conseguia gravar a voz quem tinha potência. Ele comparece com Mia Gioconda (em versão de 60, e não a original de 46), recentemente relida por Agnaldo Rayol. Quando deixou de imitar Orlando Silva, Jorge Goulart imprimiu seu belo e largo timbre vocal, ideais, a canções de impacto como Samba Fantástico (sucesso de 55). Ainda na sessão sambas, 4 Ases e 1 Coringa dão ginga ao tristíssimo Cabelos Brancos (Herivelto Martins/ Marino Pinto), lançado – quem diria! – para o Carnaval de 49. Formigão – apelido de Ciro Monteiro, o Senhor Samba – aparece aqui com seu sucesso inicial, Se Acaso Você Chegasse (38) e Jorge Veiga, o Caricaturista do Samba, com a clássica Na Cadência do Samba (Ataulfo Alves/ Paulo Gesta), regravada há pouco tempo por Cássia Eller. Finalmente, o sempre econômico Dorival Caymmi mostra seu lado zen praieiro em Saudade de Itapoã (48) provando que seu estilo resiste a qualquer modismo. Vozes lindas em disco inesquecível.(Rodrigo Faour)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Renúncia Ouvir
(Mário Rossi, Roberto Martins)
5 Serra da Boa Esperança Ouvir
(Lamatine Babo)
6 Coqueiro velho Ouvir
(José Marcílio, Fernandinho)
7 Saudade de Itapoã Ouvir
(Dorival Caymmi)
9 Nono mandamento Ouvir
(René Bittencourt, Raul Sampaio)
10 O retrato de Maria Ouvir
(Ivon Cury)
11 Na cadência do samba Ouvir
(Paulo Gesta, Ataulfo Alves)
12 Se acaso você chegasse Ouvir
(Felisberto Martins, Lupicínio Rodrigues)
13 Cabelos brancos Ouvir
(Marino Pinto, Herivelto Martins)
14 Mia Gioconda Ouvir
(Vicente Celestino)
 
OS GRANDES CANTORES DO RÁDIO