OURO DE MINAS

Anacronismo é um pecado grave na música popular: os mais bem-intencionados projetos podem passar 100% desapercebidos do público justamente pela completa falta de timing com o que se passa no momento atual. O que dizer, então, de um álbum do Roupa Nova - um grupo que há tempos não pode se chamar de moderninho - repassando mais do que conhecidas canções de compositores mineiros (o que, para muita gente, é sinônimo instantâneo de chatice - apesar disso ser muito injusto)? Bem, Ouro de Minas está aí, para quem quiser ouvir, mas só deve agradar mesmo os fiéis fãs do sexteto. Pura redundância, nas mais do que manjadas (ainda que muito boas, tecnicamente falando) harmonizações vocais, no instrumental clichezento e açucarado (ainda que virtuoso, tecnicamente falando) e principalmente na escolha de repertório. Haverá alguém disposto a encarar uma enésima versão de Nascente, ou Feira Moderna? E, em especial, com o tratamento "molenga" que o RN dá essas canções? (Princesa, por exemplo, ficou à beira do soporífero.)

Os rapazes tentam, por certo. Abrem o disco metendo um baião no meio do arranjo plastificado de Fé Cega, Faca Amolada, para Elba Ramalho cantar junto. Entretanto, os sintetizadores medonhos em Feira Moderna trazem o ouvinte de volta à realidade. Para os velhos fãs, as típicas harmonias vocais do grupo pontificam em O Sal da Terra (esta com Ivete Sangalo) e Nascente, talvez a melhor do álbum (com uma surpreendente levada de sambinha). Quando se aproximam mais das versões originais (caso de Nada Será Como Antes ou Tudo que Você Queria Ser, com uma deslocada Sandra de Sá) ou apelam para a economia instrumental (em Frisson), o nível melhora. Não é o suficiente para perdoar o que fizeram a Tão Seu (do Skank), ou a estranheza do rap (!!!) inserido em De Frente Pro Crime. Bom, pelo menos nesta eles perseguiram alguma novidade.(Marco Antonio Barbosa)