PARA QUANDO O ARCO-ÍRIS ENCONTRAR O POTE DE OURO

Pelo título, percebe-se que o segundo disco solo do titã Nando Reis não deve ter muito a ver com Igreja, Isso Para Mim é Perfume e outras canções de um passado mais polêmico de sua banda. Depois de algumas músicas suas terem sido gravadas por Marisa Monte (Diariamente), Cássia Eller (ECT, O Segundo Sol) e Sandra de Sá (Um Tiro no Coração), o baixista se consagrou como compositor de canções mais líricas, boas para se tocar no violão e ótimas para figurar em discos de cantoras ou de bandas em busca de algo mais pop e poético. Em Para Quando o Arco-Íris..., Nando vem com mais um punhado dessas músicas, agora adornadas por sua voz, de timbre tão particular quanto a poesia das letras, que falam de lábios, olhos, sol e de muito, muito amor. Algumas deixam escapar intimidades de Nando, como All Star, balada com delicados vibrafones, dedicada à amiga e cliente Cássia Eller. "O tom que eu canto as minhas músicas para tua voz parece exato", diz, como quem não quer nada, a letra. Musicalmente, o disco não provoca terremotos. É basicamente folk-rock, com muito violão de cordas de aço, guitarra, algum bandolim (de Peter Buck, do R.E.M.), acordeon e órgão. As faixas se alternam entre as mais aceleradas e roqueiras, como a Dessa Vez, Hey, Babe e Frases Mais Azuis, e as baladas, como Quem Vai Dizer Tchau? ("Tornar o amor real é expulsá-lo de você/ Pra que ele possa ser de alguém"), Relicário e O Nosso Amor – esta, justamente com aquele tipo de letra que conquista amantes e detratores para Nando. Há um tipo de canção mais suingada e guitarreira, representado por O Vento Noturno do Verão, dedicada a Gal Costa, que lembra Cinema Olympia e outras da cantora na fase roqueira do fim dos anos 60. É nela que brilham com fulgor a ótima bateria de Barrett Martin (dos finados Screaming Trees) e sempre boa guitarra de Walter Villaça (da banda de Cássia Eller), pontos altos desse que é, afinal de contas, um projeto muito pessoal do baixista dos Titãs.(Silvio Essinger)