PÉROLAS - BEZERRA DA SILVA
Bezerra da Silva (2000)
2000
Som Livre
6083 2
Crítica
Cotação:
O "sambandido" de Bezerra da Silva é mesmo irresistível. Politicamente incorreto e antecessor de toda a onda de hip hop de letras pesadas falando do submundo das favelas, da marginalidade e dos excluídos geral, ele está muito bem representado na compilação Pérolas. Porque tudo é feito na melhor tradição do samba e do humor cariocas, sem necessidade de copiar modelos americanos de ritmo ou indumentária. Uma verdadeira lição de autenticidade. Bezerra não precisa de bonezinho, camisa de jogador de basquete, gorro fashion, óculos escuros ou um par de tênis Reebok para cantar críticas pungentes ao sistema como Verdadeiro Canalha ("Se elegeu com o voto da favela/ Depois mandou nela meter bala").
As faixas desta coletânea foram retiradas de dois discos do começo da carreira fonográfica de Bezerra (Partido Alto Nota 10 - Volumes 1 e 2, de 1977 e 79, na CID) e mais dois da década de 90 (Contra o Verdadeiro Canalha, 95, e Meu Samba É Duro na Queda, 96). Os temas do samba de seu repertório versam sobre assuntos diversos. O embate entre a polícia e os traficantes de morro está presente em A Fumaça Já Subiu pra Cuca ("Não tem flagrante porque a fumaça já subiu pra cuca/ Deixando os tiras na maior sinuca (...) Quando a malandragem é perfeita ela queima o bagulho e sacode a poeira"). A injustiça social é pungente em Pobre Aposentado ("Fiquei muito injuriado quando vi na televisão um velho aposentado morto de fome na fila de um banco caído no chão"). O eterno problema da impunidade está muito bem dito em Malandro Moderno ("...colarinho branco, só usa bons ternos, não liga pro azar/ dólar na suíça, mansão beira-mar; seu nome é corrupção pra que trabalhar? Sua sorte é que você vive no país da impunidade). Já o dia-a-dia da bandidagem está presente, entre outras, em Acordo de Malandro ("Mas você manda lá embaixo/ Aqui em cima quem manda sou eu/ Eu não vivo em seu terreno/ Nem você pisa no meu") ou na hilária Ele Cagüeta com o Dedão do Pé ("Cagüete é cagüete mesmo, vejam só como ele é/ É que cortaram as duas mãos do canalha e ele agora cagüeta com o dedão do pé. (...) Ele fica no orelhão de cabeça pra baixo discando denúncia com o dedão do pé").
Também engraçadas são Pega Eu (um de seus primeiros sucessos, de 79), que diz: "O ladrão foi lá em casa, quase morreu do coração (...) Ficou maluco vendo tanta miséria em cima de um cristão que saiu gritando: 'Pega eu que eu sou ladrão'" ou Sai Encosto, que versa sobre uma macumba terrível. Finalmente, Meu Samba É Duro na Queda resume os ideais do trabalho de Bezerra. "Meu samba é duro na queda/ Não é conversa fiada/ É uma bandeira de luta na vida da rapaziada". É uma pena que o samba que venha tomando o gosto popular atualmente tenha enveredado por uma linha brega-romântica tão apolítica. Essa gente devia tomar um Bezerra na veia de vez em quando para acordar. O caos social sob a ótica do menos favorecido ou até mesmo do contraventor é no mínimo revelador para que algo seja feito para reverter o quadro.(Rodrigo Faour)
As faixas desta coletânea foram retiradas de dois discos do começo da carreira fonográfica de Bezerra (Partido Alto Nota 10 - Volumes 1 e 2, de 1977 e 79, na CID) e mais dois da década de 90 (Contra o Verdadeiro Canalha, 95, e Meu Samba É Duro na Queda, 96). Os temas do samba de seu repertório versam sobre assuntos diversos. O embate entre a polícia e os traficantes de morro está presente em A Fumaça Já Subiu pra Cuca ("Não tem flagrante porque a fumaça já subiu pra cuca/ Deixando os tiras na maior sinuca (...) Quando a malandragem é perfeita ela queima o bagulho e sacode a poeira"). A injustiça social é pungente em Pobre Aposentado ("Fiquei muito injuriado quando vi na televisão um velho aposentado morto de fome na fila de um banco caído no chão"). O eterno problema da impunidade está muito bem dito em Malandro Moderno ("...colarinho branco, só usa bons ternos, não liga pro azar/ dólar na suíça, mansão beira-mar; seu nome é corrupção pra que trabalhar? Sua sorte é que você vive no país da impunidade). Já o dia-a-dia da bandidagem está presente, entre outras, em Acordo de Malandro ("Mas você manda lá embaixo/ Aqui em cima quem manda sou eu/ Eu não vivo em seu terreno/ Nem você pisa no meu") ou na hilária Ele Cagüeta com o Dedão do Pé ("Cagüete é cagüete mesmo, vejam só como ele é/ É que cortaram as duas mãos do canalha e ele agora cagüeta com o dedão do pé. (...) Ele fica no orelhão de cabeça pra baixo discando denúncia com o dedão do pé").
Também engraçadas são Pega Eu (um de seus primeiros sucessos, de 79), que diz: "O ladrão foi lá em casa, quase morreu do coração (...) Ficou maluco vendo tanta miséria em cima de um cristão que saiu gritando: 'Pega eu que eu sou ladrão'" ou Sai Encosto, que versa sobre uma macumba terrível. Finalmente, Meu Samba É Duro na Queda resume os ideais do trabalho de Bezerra. "Meu samba é duro na queda/ Não é conversa fiada/ É uma bandeira de luta na vida da rapaziada". É uma pena que o samba que venha tomando o gosto popular atualmente tenha enveredado por uma linha brega-romântica tão apolítica. Essa gente devia tomar um Bezerra na veia de vez em quando para acordar. O caos social sob a ótica do menos favorecido ou até mesmo do contraventor é no mínimo revelador para que algo seja feito para reverter o quadro.(Rodrigo Faour)
Faixas