PERPETUAL EMOTION

Ainda que por enquanto seja apenas "para americano ver", vale a pena dar o registro do CD Perpetual Emotion, que marca a volta de Flora Purim (e de Airto Moreira, por tabela) aos estúdios depois de quase seis anos. Trata-se de um disco (intencionalmente) mais pautado no jazz puro que na música brasileira, que por isso mesmo escapa do estreito rótulo de Brazilian jazz que tentam impingir a Flora. É jazz "de gente grande", muito bem tocado e com a classe de sempre da cantora à frente. Em 11 temas não muito longos para a tradição do estilo, Flora, Airto e seu grupo de feras optam por "falar baixo", em arranjos contidos e distantes das improvisações loucas do fusion à la anos 70. Essa abordagem tinge de elegância e sutileza faixas como My Ship (original de Ira Gershwin, com letra de Kurt Weill), a bela Saudade e Crystal Silence (esta com arranjo de Cesar Camargo Mariano) - todas dominadas pela voz de Flora, em registro melancólico. A voz também é soberana no excelente arranjo vocal (de Oscar Castro Neves) tramado para Fotografia, interpretado pelo grupo OK Corral Choir. Os versos dão lugar a vocalises em Journey to Eden, a oitava faixa do disco - e a partir daí a performance instrumental passa a dar as cartas. Desnecessário destacar a já legendária habilidade de Airto na percussão, evidente na auto-referencial Airto's Jazz Dance, mas também de maneira mais sutil em Journey to Eden, Escape e Search For Peace. Entre o resto dos músicos, Christian Jacob (piano) e Gary Meek (sopros) se destacam (especialmente também em Airto's Jazz Dance, único momento mais uptempo do disco). Uma terna versão para Carinhoso encerra o álbum com dignidade, dando o sutil e exato referencial brazuca que Flora precisa para referendar sua arte lá fora. (Marco Antonio Barbosa)