PIXINGUINHA ALMA E CORPO - CARLOS MALTA E QUARTETO DE CORDAS
Pixinguinha / Carlos Malta (2000)
2000
Independente
500-001
Crítica
Cotação:
Prima pobre do mercado, a música instrumental foi relegada ao gueto, como a poesia na área do livro. Mas nem todos se conformam com essa imagem coitadinha. O dínamo multisopros Carlos Malta, felizmente, não pára quieto. Formado na escola hiperativa de Hermeto Pascoal, com quem tocou durante 12 anos, ele gravou em 1998 um disco cujo título define suas habilidades (Escultor do Vento), embarcou no ano seguinte na recuperação da sonoridade do pífano nordestino (o intrigante Carlos Malta e o Pife Muderno) e reaparece agora com dois CDs de uma tacada. Em Pimenta, ele navega através de clássicos marcados a ferro & brasa pela voz da Pimentinha Elis Regina. Já Pixinguinha, Alma e Corpo veste traje de câmara (com quarteto de cordas, dois violinos, viola e cello) na obra do mestre do choro. Naquele Tempo ganha um toque à Piazzolla no ostinato do cello de Hugo Pilger. A pouco conhecida Dininha leva tempero impressionista de Debussy e Erik Satie. Malta (nos saxes soprano, alto, tenor, flautim, arranjos e regência) valoriza a técnica de contrapontos de Pixinguinha (especialmente em sua fase como sax-tenorista) em faixas como Proezas de Solon e na polirritmia de Lamentos (de um 6/8 para um 2/4). Do som de retreta no saltitante A Vida é um Buraco aos dribles de sopro de 1 X 0 e um Carinhoso com sax destacando-se do bloco de cordas, o disco tem a densidade da obra-prima. Próximo disso, com a tarefa árdua de trabalhar sobre standards muito surrados como Fascinação ou Garota de Ipanema, Malta mostra seu lado mais jazzístico (e condimentado) em Pimenta. Espana a obviedade em arranjos que reconstroem atmosferas de jóias como Cais (pontuada no surdão), Águas de Março (em espaçosos improvisos), Upa Neguinho (flauta percussiva, timbre sujo nas levadas), Nada Será como Antes (bordado de violão de 12 que abre para sax soprano jazzístico) e Ladeira da Preguiça (calcada no contraritmo da bateria em contraste com a dissonância do sax-barítono). Coisa de ourives.
(Tárik de Souza)
Faixas