PIXINGUINHA DE BOLSO
Marcello Gonçalves / Henrique Cazes (2000)
Crítica
Cotação:
Um dos momentos mais altos da cumeeira musical da obra de Pixinguinha são os duetos que ele gravou no sax com a flauta de Benedito Lacerda, em meados da década de 40. O bordado essencial de solo e contraponto por dois instrumentos que tecem a trama melódico/harmônica e ainda insinuam o ritmo é retomado neste disco básico onde casam-se (sem trocadilho) o cavaquinho de Henrique Cazes (um dos fundadores do Camerata Carioca) e o violão sete cordas de Marcello Gonçalves (dos grupos Rabo de Lagartixa e Trio Madeira Brasil). A tese entre os dois é a abolição do solista, mas até pela própria natureza dos instrumentos o cavaco altissonante de Cazes predomina sobre a baixaria (no melhor sentido) de Gonçalves, nos papéis que poderiam ser respectivamente, o da flauta e o do sax. Há casos como o do degustado Ingênuo (que Pixinguinha considerava sua melhor composição), em que o cavaco desce aos graves e o violão parece ditar o comando da execução. Mas em outros exemplos mais saltitantes como o do célebre Um a Zero (composto em homenagem à vitória do Brasil sobre o Uruguai, em 1919) ou do espevitado Tapa Buraco, o cavaquinho pontifica e o violão segue atrás, digamos, tapando os buracos sugeridos pelo contraponto. O repertório combina peças conhecidas como o supracitados Um a Zero, Ingênuo e mais Os Oito Batutas, Proezas do Solon ao Pixinguinha das valsas (Sensível, Glória) e até o do inédito maxixe Os Dois Se Gostam, gravado pelo autor em 1919 num disco onde seu nome não aparecia, descoberta de Cazes em suas pesquisas para o livro O Choro do Quintal ao Municipal. Minimalista e solto, despido de firulas, para a roda de bar ou o recital de câmara, o bate-bola dos dois virtuoses atesta que não há limites para reler (e reouvir) Pixinguinha.(Tárik de Souza)
Faixas