RAÍZES DO SAMBA - ATAULFO ALVES
Ataulfo Alves (2000)
Crítica
Cotação:
Mineiro (de Miraí) que mexeu na cadência do samba, Ataulfo Alves de Souza (1909-1969) ralentou o andamento do velho ritmo e deu uma interpretação pausada às síncopas que abriria caminho para (sub)divisões como a de Jorge Ben e do posterior suingue/samba rock. (Não por acaso, Ataulfo fez parceria com Carlos Imperial, figura de proa do rock nativo, em Você Passa e Eu Acho Graça, em 1968). Improvisado como intérprete porque ninguém queria gravar sua Ai! Que Saudades da Amélia (com rara introdução de cavaquinho de Jacob do Bandolim), ele quebrou o tabu de que sambista não poderia ser cantor e ganhou o carnaval de 1942. Enquanto a grande maioria (Cartola, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Bide, Marçal) era obrigada a entregar suas composições (e muitas vezes ceder a parceria) aos cantores do rádio, Ataulfo tornou-se um deles. E com enorme sucesso, como prova o colar de pérolas dessa antologia aberta exatamente pelo clássico da mulher submissa. O mineiro, conquistador emérito escalado entre os dez mais elegantes do cronista social Ibrahim Sued, por sinal, não brincava neste serviço. Vestiu Saia Tá Pra Mim, Desaforo Eu Não Carrego, Malvada ("perversa, covarde, fingida/ mataste a ultima esperança que restava na minha vida") e a venenosa Você Nasceu Para o Mal ("quem vê você não diz a víbora que é/ (...)sei que você queria me ver morrendo à mingua/ mas enfim se envenenou com a própria língua") são de eriçar a ira das feministas. Dialogando com coro (chamado por ele de As Pastoras) na maioria das faixas, Ataulfo desfila clássicos atemporais como Leva Meu Samba, Oh! Seu Oscar, Vai, Mas Vai Mesmo, Sei Que É Covardia, Mas..., Meus Tempos de Criança, Bonde de São Januário, Vida da Minha Vida, Mais um Samba Popular, Não Posso Viver Sem Ela em gravações das décadas de 40 e 50, quando a massa ainda degustava biscoitos finos feitos por seus próprios confeiteiros.
(Tárik de Souza)
Faixas