RAÍZES DO SAMBA - MÁRIO REIS
Mário Reis (2000)
Crítica
Cotação:
O samba nasceu nas casas das tias baianas no centro do Rio, cultivado basicamente por negros pobres, diz a sociologia do gênero musical. Mas o que faz no meio deles este branco aristocrata, jogador de tênis, descendente de uma família de industriais? O diletante Mário da Silveira Reis (1907-1981), parente dos donos da fábrica de tecidos Bangu, certamente não estava no samba por dinheiro, apesar de ter comprado os direitos de algumas composições. Aluno de violão do auto intitulado "rei do samba" Sinhô - José Barbosa da Silva (1888-1930) -, Mário, apesar de também embarcar com habilidade nas marchinhas, era um sambista vocacional e um dos maiores cantores do ramo. Nas duplas com o operístico Francisco Alves (faixas Se Você Jurar, Deixa Essa Mulher Chorar, de 1930, Anda Vem Cá, de 1931 e Fita Amarela, de 1932, desta seleção) mostrava que era possível afrontar o dó de peito vigente compensando a voz curta com fraseado e balanço. Sua dicção coloquial mais próxima dos criadores do samba (Noel incluído) abriu caminho para o intimismo da bossa nova, embora não tenha influenciado diretamente a voz-guia do setor, João Gilberto, discípulo da fase áurea de Orlando Silva. Como não dependia financeiramente da carreira musical, Mário fez vários retiros e voltas estratégicas, refletidas nessa seleção que além da fase inicial (Jura, Dorinha, Meu Amor, Vou à Penha , gravações de 1928), traz o cantor dos anos 30, o de 1960, contemporâneo da bossa nova, e o de 1971, quando entrou em estúdio (e fez um magnífico show no Copacabana Palace) pela última vez. Ao contrário da maioria de seus contemporâneos, Mário a cada volta cantava melhor. São primorosas suas interpretações de Cansei (Sinhô), Filosofia (Noel Rosa), Fui Louco (Bide) e Nem É Bom Falar (Ismael Silva/ Francisco Alves/ Newton Bastos) da última fornada. Tem bamba branco (e rico) no samba.
(Tárik de Souza)
Faixas