RIQUEZA DO BRASIL

Nem todo pagode paulista é sambrega. Formado por dois moradores de Santo Amaro (Zona Sul), Magno e Maurílio (filhos do músico Chique-Chique, conhecido nas rodas de samba dos 70) e três do bairro de São Matheus (Zona Leste), Yvison, Everson e Victor Hugo, o Quinteto em Branco e Preto mostra que o samba não morreu na terra de Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini, Eduardo Gudin, Geraldo Filme, Carlinhos Vergueiro e bambas menos badalados. Eles repescam no pot-pourri Homenagem à Velha Guarda da Camisa Verde e Branco um tipo melódico do estilo (Fantoche, Cabaré, Rolou uma Lágrima em Meu Rosto) que tem parentesco com seu correspondente carioca como no sincopado Êta, Samba Bom (Dadinho/Melão), de ligação direta com o tema quase homônimo do mangueirense Geraldo Pereira. Com o aval dos cariocas Beth Carvalho (em Sempre Acesa, de Luiz Carlos da Vila e Sombra) e Almir Guineto (em Reveses, de Maurilio de Oliveira/ Edvaldo Galdino Silva), o Quinteto também repassa clássicos da Velha Guarda carioca (O Bonde São Januário, Nem É Bom Falar, Não Diga a Ela Meu Endereço, Se Você Sair Chorando, Você Vai Se Quiser, Cantar Para Não Chorar). Recheado de surpresas, o disco tem ainda sambas enredo (a faixa título e Mãe África) e sambas de protesto agudo como Nova Psicologia (de Magno de Souza, que traz o trecho "Eu olho o Brasil e aponto o erro/ chama-se aristocracia/ o povo perdido, acredita demais na era da demagogia") e principalmente Fetiche Real (Magno de Souza/ Maurílio de Oliveira/ Everson Manuel/ Edvaldo Galdino). Este inova ao transformar o nome do presidente em verbo de exclusão: "Não há país de Cardoso/ que Fernando não enrique". Aliando busca da originalidade & culto à tradição, o Quinteto em Branco e Preto abre alas e pede passagem sapateando em cima do túmulo do samba.(Tárik de Souza)