Rodox

Vamos resumir os fatos: os Raimundos fixaram-se, há muito tempo, em uma fórmula segura e repetitiva. E talvez tenha sido por isso, e não (apenas) por divergências pessoais e profissionais, que Rodolfo Abrantes deixou o grupo. Em seu segundo disco à frente do grupo Rodox, o ex-vocalista dos Raimundos mostra ter muito mais disposição para buscar novos rumos sonoros do que seus velhos companheiros. O álbum homônimo é menos eclético que Estreito, o que a princípio poderia parecer um retrocesso. Mas na verdade apenas constata-se que o grupo fechou seu foco para fazer um som mais coeso. Uniformemente pesado, ostentando influências que vão além do punk-pop simplista dos Raimundos (em especial, referências capturadas do nu-metal e do rapcore novaiorquino), Rodox faz poucas concessões ao que poderia se chamar de peso radiofônico, que infesta as FMs com clones do Charlie Brown Jr.

Há escorregões inevitáveis, como na faixa de trabalho (De Costas Pro Mar, um tanto parecida com o som dos Raimundos). Mas as “gorduras” pop foram estirpadas, resultando num som compacto e agressivo (que no entanto não vai assustar ouvidos menos afeitos à porrada). Junte esses dados à temática positiva e “para cima” que caracteriza as letras de Rodolfo desde sua conversão ao protestantismo e tem-se uma banda com identidade própria, coisa rara no pop nacional safra 2003. As extra-pesadas Incinerador, Truth e Inflexível se casam bem com o pique mais leve de faixas como Beach Punx ou Foi Bom Esperar. Curiosamente, a equação “mensagem positiva + peso & contundência” se fecha mesmo na versão para Exodus, de Bob Marley, na qual os rugidos de Rodolfo (e das guitarras, e da bateria) afastam qualquer lembrança da original. (Marco Antonio Barbosa)