SAMBA

As credenciais de Almmirzinho no mundo do partido alto dispensam maiores apresentações - basta dizer que o rapaz é filho do bamba Almir Guineto. Como se não bastasse a filiação, o jovem Guineto ainda nomeou seu primeiro CD simplesmente como Samba; nem temeu a possível redundância, só para garantir que seu batuque é de raiz mesmo. E é, afinal? Na maior parte do tempo sim. Na pantanosa área do pagode romântico, Almmirzinho patina ligeiramente. Felizmente, o sambão legítimo dá as cartas na maior parte do tempo.

O repertório é insuspeito, incluindo várias músicas de "papai Almirzão", como Recomeço e Brilho no Olhar. Também há alguns clássicos incontestáveis, como Insensato Destino (Lins/Chiquinho/Marques) e um caprichado pout-pourri que inclui Zeca Pagodinho (A Vaca) e novamente Almir Guineto (Papagaio). A porção "muito romântica" do disco fica, entretanto, quase toda a cargo do próprio Almmirzinho - que assina com o pai coisas como Sedução e Dor da Saudade. Aí é que o perigo acaba morando: basta comparar o romantismo de Almmirzinho com o do pai e notar-se-á que o filho pende mais para Alexandre Pires do que para Candeia.

Nada que chegue a atrapalhar o clima de samba genuíno, não plastificado, que permeia o álbum. Os arranjos, que felizmente evitam a "tecladeira" marca registrada dos pagodes mais pasteurizados, são caprichados no trabalho de percussão, banjo e cavaquinho - como deve ser um disco de partideiro que se preza. A participação de Beth Carvalho (no animado pagode Sete Chaves) também é um ponto a favor. No entanto, o disco desperdiça o que deveria ser um trunfo - o fato de ser gravado ao vivo, na casa de shows Terra Brasil (SP) - com uma produção limpinha demais, cheirando a retoque de estúdio. Tem nada não: dê um desconto à capa cafona e caia no samba com Almmirzinho.(Marco Antonio Barbosa)