SEJA COMO FOR
Xis (2000)
Crítica
Cotação:
Lançado no ano passado através do selo do próprio rapper 4P (Poder para o Povo Negro), esta estréia solo de Xis (Marcelo Santos), melhor clip de rap do último Video Music Brasil da MTV pela faixa Us Mano e As Mina, surpreende em vários planos. A despeito da arma apontada na capa para o provável ouvinte, Xis não é um gangsta rapper. O discurso carrega nas tintas sociais, mas ele não fica só no protesto, mesmo produzido por KL Jay, de um grupo especialista na área, o Racionais MCs. E as bases que usa permitem até elaboração jazzística (Vai e Vem) sem deixar de ser música de rua. O patrono da MPB (Música Preta Brasileira) Jorge Ben é citado duas vezes sempre no tempo em que ainda não usava o Jor: na letra de Segue a Rima ("Mas, que nada, um som de Jorge Ben tocava no Néon") e na abertura sampleada de Menina Mulher da Pele Preta em Só Por Você. O referencial do rapper também viaja do Capitão Kirk do Spock da série espacial de TV (A Lei da Rua) ao repórter de polícia Caco Barcelos (Segue a Rima). Como ocorre nas conversas mais coloquiais, os raps de Xis mudam de assunto no meio ainda que alguns temas sejam recorrentes, como a paranóia que aparece em várias letras, a começar pela faixa Paranóia Delirante ("seqüência de um papel/ não curto isso aí, mas tô ligado/ na parada que domina por aqui"). Utilizando as gírias quase como um dialeto da comunidade, este porta-voz (e poesia) da Cohab paulistana (zona leste da cidade) – que emergiu na coletânea Consciência Black Vol. 2 (Zimbabwe, 1992), gravou Cada Vez Mais Preto (Zimbabwe, 1994) como integrante do grupo DMN e estourou, em 1997, o single De Esquina na coletânea O Poder da Transformação – mostra articulação e coragem de afrontar regras que engessam o setor. Do romantismo de Só Por Você ao sonho de consumo de Enquanto Eu Posso, o rap da periferia dilata sua temática e troca de pele musical.(Tárik de Souza)
Faixas