SÉRIE 2 LPS EM 1 CD: "Bandalhismo" e "Essa é a Sua Vida"

João Bosco (2001)

2001
BMG
Crítica

Cotação:

Em meio a seu cardápio heterodoxo, a série econômica da BMG oferece um prato raro e saboroso: relança em um único CD dois dos menos conhecidos discos de João Bosco. Ironicamente, não foi por ausência de boas canções, muito menos por falta de méritos musicais do cantor e violonista mineiro, que seus álbuns Bandalhismo (1980) e Esta É a Sua Vida (1981) passaram quase batidos pelo grande público. O litígio de João com a gravadora RCA, que o lançara em 1973, acabou resultando em uma precária promoção desses discos. Pior para os fãs da MPB, que tiveram pouco acesso a esses trabalhos.

Recém-saídos de uma fase de desentendimentos, após quase uma década de brilhante parceria, João e o letrista Aldir Blanc mostraram em Bandalhismo que a dupla ainda tinha muito gás criativo. Com arranjos de João Donato, Radamés Gnatalli, Oberdan Magalhães e maestro Nelsinho, o disco já começa com Profissionalismo É Isso Aí ("domingo numa solenidade / uma autoridade me abraçou / bati-lhe a carteira, nem notou / levou meu relógio e eu nem vi / já não há mais lugar pra amador"), um daqueles sambas cheios de ginga e bem característicos da dupla, que parecem crônicas sociais em forma de música. Siri Recheado e o Cacete, Sai Azar e Tal Mãe, Tal Filha (esta incluindo Paulo Emílio na parceria) seguem a mesma linha ácida e bem-humorada, alternados a faixas mais românticas, como a bela canção Vitral da 6ª Estação ou o bolero Trilha Sonora. Sem falar no contundente choro que empresta título ao disco ("como os pobres otários da Central / já vomitei sem lenço e Sonrisal / o PF de rabada com agrião / mais amarelo do que arroz de forno / voltei pro lar e em plena dor de corno / quebrei o vídeo da televisão"), com participação especial de Paulinho da Viola.

Um ano depois, João encerrou seu contrato, fazendo um disco bastante diferente. A começar pelo fato de que Essa É a Sua Vida não incluiu nem um único samba. Nesse álbum predominam versões doídas do cantor e compositor para algumas pérolas de sua parceria com Blanc, como Agnus Sei, Cabaré e Corsário, que já tinham se tornado sucessos na voz de Elis Regina. O intimismo do disco, marcado pelos arranjos centrados no violões de João e Rafael Rabello, só é quebrado em parte pelo baião Foi-se o Que Era Doce e pelo choro Títulos de Nobreza. Ouvida no contexto do rompimento de João com a gravadora, a sensível De Partida até parece conter uma alfinetada: "vou me embora porque todo dia / é só mais um dia no rol dos dias / e até a lágrima queda estagnada / de monotonia". Azar da RCA, que deixou de contar em seu catálago com outros discos desse grande artista.

(Carlos Calado)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Profissionalismo é isso aí Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
2 Trilha sonora Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
3 Tal mãe, tal filha Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco, P. Emilio)
4 Anjo torto Ouvir
(Guerra Baião, João Bosco)
5 Vitral da 6ª estação (Rocha por aí) Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
6 Sai, azar! Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
7 100 anos de Instituto - anais Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
8 Siri recheado e o cacete Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
9 Denúncia vazia Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
10 Bandalhismo Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
11 Amigos novos e antigos Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
12 Perversa Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
13 Essa é a sua vida Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
14 Cabaré Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
15 Agnus sei Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
16 Corsário Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
17 De partida Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
18 Foi-se o que era doce Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
19 Títulos de nobreza (Ademilde no choro) Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco)
20 O caçador de esmeralda Ouvir
(Aldir Blanc, João Bosco, C. Tolomei)
 
SÉRIE 2 LPS EM 1 CD: