SÉRIE 2 LPS EM 1 CD: "Ninguém Proibe o Amor" e "A Vida é Só Pra Cantar"
Wilson Simonal (2001)
Cotação:
É muito curioso ouvir novamente dois LPs da década de 70 do cantor Wilson Simonal em 2001, um ano depois de sua morte e quase de 30 depois das acusações de deduragem que ajudaram a comprometer sua carreira. Com a isenção que o tempo traz, é possível analisá-los e descobrir um intérprete agradável e interessante. O problema é que na fase em que gravou Ninguém Proibe o Amor (75) e A Vida É Só Pra Cantar (77), que acabam de ser relançados na série 2 LPs em 1 CD (BMG), Simonal desperdiça uma voz limpa, com queda para o soul, e uma ginga inconfundível num repertório menor e sem muita coerência - este sim, o real motivo de seu suicídio artístico.
No primeiro LP, ele optou por compositores, na maioria, desconhecidos. Mesmo assim, descobre-se entre suas dez faixas, um Cassiano pouco lembrado (Partitura de Amor, com Adilson Manhãs) e clássicos de Bororó (Da Cor do Pecado), Lupicínio Rodrigues (Sozinha), Carlos Lyra & Vinicius (Sabe Você) e Chico Buarque (Cordão, uma das melhores faixas, em ritmo de samba-funk, com direito a teclado lounge).
Mas essa última é exceção. Ao invés de sambões incendiários, Simonal realizou um disco mais romântico e intimista, de médio impacto, num clima soul light, com alguns arranjos até razoáveis de José Briamonte. "Todo cuidado é pouco/ Viver é coisa de louco", diz uma das boas faixas, Coisa de Louco, bastante autobiográfica, bem como a citada Cordão: "Ninguém vai me acorrentar/ Enquanto eu puder cantar/ Enquanto eu puder sorrir". Seus desabafos não foram ouvidos. Pudera, seu repertório era vacilante e não lembrava nem de longe o rigor das músicas dos seus primeiros discos de meados dos anos 60.
O segundo LP já tem um clima bem diferente. É bem mais animado, mas em compensação tem arranjos mais pasteurizados a cargo do mesmo Briamonte e do próprio Simonal e é muito inferior ao primeiro. Abre num clima jorgebeniano com Homenagem Rubro-Negra (Joga Corinthians) e já tem cheiro de revival, com direito a dois pot-pourris de sucessos. Um com Sá Marina, Galha do Cajueiro, Vesti Azul e Mamãe Passou Açúcar em Mim e outro com The Banana Boat Song (calypso de sucesso na voz de Harry Belafonte no fim dos anos 50, a qual fez Simonal despertar sua vocação para o canto), Nanã e Tributo a Martin Luther King.
Mas eis que entre um gospel à brasileira (Queremos Deus) e uns sambinhas bregas - e alienantes àquela altura -, como A Vida É Só pra Cantar, vê-se que o cantor estava longe da coerência estética que o levou a ser mais popular que Roberto Carlos nos anos 60. Resta esperar que a EMI reedite seus primeiros vinis para que o ouvinte possa fazer, ele mesmo, a comparação entre as duas fases e comprovar a verdadeira razão do ostracismo do cantor.
(Rodrigo Faour)Vesti azul (Nonato Buzar)
Mamãe passou açúcar em mim (Carlos Imperial)
(C. François, Subway, Gysbi, Vrs. T. Greef, E. Gomez, T. da Vila)
Tributo a Martin Luther King (Ronaldo Bôscoli - Wilson Simonal)