SUJEITO HOMEM

Potencial 3 / Rappin' Hood (2001)

2001
Crítica

Cotação:

Uma das produções mais esperadas do rap paulistano nos últimos tempos, a estréia solo de Rappin'Hood (revelado à frente do Posse Mente Zulu) demonstra a maturidade e a criatividade do rapper. Ele vence o desafio que parece mais complexo para o hip hop brasileiro "conscientizado": equilibrar a contundência do discurso com uma sonoridade que tenha a mesma força. Como tantos outros manos, RH canta a vida dura das periferias, que conhece de perto, mas ele não se limita a afiar a discurseira; junta a seu lado de observador social um saudável ecletismo sonoro, num disco que surpreende pela variedade. Intuitivamente, Rappin'Hood descobriu que uma embalagem sônica "palatável" também tem o poder de prender a atenção do público ao que realmente importa: as letras.

Tem muita crônica barra-pesada em Sujeito Homem. RH foca o olhar para a violência nas periferias (como em Vida Bandida e na tensa vinheta que introduz Suburbano - que termina abruptamente, assustando o ouvinte) e não esquiva de pichar os "gambés" (malhando a violência policial em Caso de Polícia). Mas seu discurso não se limita a isso. Decanta a beleza da mulher negra em Tributo às Mulheres Pretas, usa marotamente o futebol como metáfora da malandragem em Gol e pega carona no humor dos repentistas Caju & Castanha (De Repente, que ataca a corrupção na figura do juiz Nicolau). E também abraça a clássica autolouvação dos rappers em É Tudo no Meu Nome e Rap du Bom, desencanado e preciso.

O tchan final da fórmula de Rappin'Hood são suas bases, todas no capricho e produzidas, em grande parte, pelo próprio rapper. Aproxima-se da tradição nordestina (na já citada De Repente, feita só na voz e nas pandeiradas) e resvala no samba, com a benção de Leci Brandão - com quem divide os vocais em Sou Negrão. Até reggae, dos mais roots, serve de plataforma para as rimas de RH: Raízes, gravada com Funk Buya e Gustavo Black Alien. Arrisca também uma bossa nova (com violão sampleado e vocal feminino): Suburbano, que surpreende pela suavidade. Nas faixas de hip hop mais "ortodoxas", Rappin'Hood manda igualmente bem: É Tudo no Meu Nome, Gol e Rap Du Bom, entre outras, exibem grooves matadores, econômicos e suingados. Bom também ficou o empréstimo do som soul-funkeado do Placa Luminosa (alguém se lembra?), balançando as batidas de A Bola do Mundo 2.

(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 O chamado Ouvir
(Rappin' Hood, Pregador Luo)
2 É tudo no meu nome (Remix) Ouvir
(Rappin' Hood)
4 Rap du bom Ouvir
(Rappin' Hood)
5 De repente Ouvir
(Castanha, Caju, Rappin' Hood)
6 Vida bandida (Culpa da situação) Ouvir
(Rappin' Hood, Douglas Guerreiro)
7 Tributo às mulheres pretas Ouvir
(Rappin' Hood, Johnnye MC, Lady Cris)
8 Raízes (Toaster roots 2) Ouvir
(Black Alien, Rappin' Hood, Funk Buya)
9 Suburbano Ouvir
(Rappin' Hood)
10 Sou negrão Ouvir
(Rappin' Hood)
11 Vida de negro Ouvir
(Hébano, KL Jay, Xis, Rappin' Hood)
12 Caso de polícia Ouvir
(Tio Fresh, Rappin' Hood)
13 A bola do mundo 2 Ouvir
(Rappin' Hood)
14 Rap du bom (Remix) Ouvir
(Rappin' Hood)
 
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