SUPERFANTÁSTICO - QUANDO EU ERA PEQUENO...

Sejamos francos: a idéia tinha boas possibilidades de dar errado. Uma seleção de nomes proeminentes (uns mais, outros menos) do pop atual, regravando temas de programas infantis "clássicos"... o conceito foi testado com êxito no exterior há alguns anos (no CD Saturday Morning), mas quem garantia que aqui iria funcionar? Em especial, depois de notar-se que a escolha de intérpretes por vezes ultrapassa o limite do irregular. Felizmente, basta o ouvinte inspirar-se com uma dose da boa vontade - e da falta de preconceitos - típica das crianças, para que Superfantástico possa soar bem agradável, para todas as idades. Ajuda, e muito, a insuspeita presença de compositores como Guilherme Arantes, Chico Buarque, Marcos Valle e Vinícius de Morais assinando as músicas (que diferença para a TV de hoje...). Com a produção feijão-com-arroz, mas caprichadinha, de Bruno Gouveia e Luiz Carlos Meu Bom, e um inegável tom de sinceridade nas interpretações, tem-se um disco simpatiquinho. Ao qual, afinal, vale aplicar o chavão: recomendado para crianças de todas as idades.

Como toda coletânea de vários artistas, o resultado tem altos e baixos. Interessantíssimo, por exemplo, é perceber como os Los Hermanos submeteram Hollywood (do programa Saltimbancos Trapalhões) a sua peculiar estética melancólica-circense. Ou, talvez a maior surpresa do disco, o peso injetado pelo Uns e Outros em Funga Funga (do Vila Sésamo). Num mesmo registro mais roqueiro, vem Branco Mello - que já provou sua identificação com a música infantil na ópera-rock Eu e Meu Guarda-chuva - numa versão com sabor adequadamente sixtie para o tema do Vigilante Rodoviário. Leoni também faz bonito na bela - e infelizmente esquecida hoje em dia - Sideral (do Capitão Asa), num arranjo bem à moda de seu recente álbum solo. Outras, se não primam pela invenção, convencem pela simpatia. Caso de Vinny (Hey Shazam), Frejat (Cinto de Inutilidades), e mesmo de Kelly Key - que, ao regravar Doce Mel, a célebre canção de Xuxa, é talvez a mais sincera do lote. Nem que seja por contingência cronológica: a lourinha cresceu ouvindo isso, afinal.(Marco Antonio Barbosa)