TENHO SAUDADE
Carmina Juarez (2000)
Crítica
Cotação:
Reunir compositores da velha guarda da música popular brasileira, como Lamartine Babo, J. Thomaz e J. Aymberê, num disco intitulado Tenho Saudade, pode passar a impressão de um projeto centrado em nostalgia. Mas basta ouvir a primeira faixa, uma criativa versão da canção de Ary Barroso que dá título ao CD, para se perceber que as intenções musicais de Carmina Juarez e seus parceiros vão muito além do resgate. Decidida a recriar o repertório de Elisinha Coelho (veterana intérprete gaúcha, que Ary Barroso costumava chamar de "Pássaro Cantador"), Carmina reuniu um talentoso grupo de instrumentistas de São Paulo. André Mehmari (piano), Célio Barros (contrabaixo), Jardel Caetano (violão) e Rui Carvalho (bateria) trazem sofisticação e sentido jazzístico ao projeto, que a jovem intérprete paulista comanda com um belo timbre vocal e técnica herdada do estudo do canto lírico. A clássica No Rancho Fundo (de Ary e Lamartine) ganha cores de balada contemporânea, no duo sensível da cantora com o piano de Mehmari. Assim como a versão de Palmeira Triste (outra de Ary e Lamartine) dribla com classe o sentimentalismo óbvio, no arranjo de Célio Barros e Jardel Caetano. Inusitado também é o arranjo de Praga, um samba irado de J. Aymberê ("Eu quero te ver sem ter nada / roendo calçada, dormindo no chão / eu hei de te ver todo rasgado / em minha porta ajoelhado), que Carmina interpreta com emoção contida, acompanhada pelo baixo dramático de Barros. Destacam-se também as belas vinhetas (Coral Sobre "Que Foi Que Eu Fiz", Saudade Branca, Saudade da Saudade) compostas por Mehmari. À frente de um projeto inovador, Carmina desponta já em seu segundo álbum como uma intérprete que vai dar o que falar.(Carlos Calado)
Faixas