TIJOLO NA VIDRAÇA
Marcelo Nova / Camisa de Vênus (2001)
2001
Som Livre
0145-2
Crítica
Cotação:
Marcelo Nova, definitivamente, não é mole não - está bem mais para tijolo do que para algodão doce. Por ser um dos poucos (único?) roqueiros brazucas que insistem em ser fiéis a si mesmos, a suas integridades artísticas e morais, ele já vai emplacando uns bons pares de anos afastado da mídia e das grandes gravadoras. É um preço a se pagar, quando se quer permanecer autêntico - mesmo correndo o risco de parecer chato e impertinente às vezes. Faz parte do jogo. Como que para compensar o quase-sumiço de Marceleza da ribalta pop nativa, sai agora este álbum triplo, que sumariza sua contribuição ao rock nacional e ainda apresenta a nova safra do cantor (são 20 faixas novas, nada mal para quem não lança um álbum de inéditas desde 1994). A luxuosa edição soa como vingança, especialmente por ser lançada pela Som Livre Direct - braço da Rede Globo, que tentou mais de uma vez deletar o "imoral" grupo de nome Camisa de Vênus de sua programação.
As faixas são arrumadas nos três CDs sem muita ordem cronológica, mas não é difícil pescar as novidades apresentadas por Marcelo. As músicas novas, em boa parte, são covers em embalagem acústica. Antes de acusar o baiano de estar embarcando em qualquer onda desplugada, vale lembrar que ele já tinha testado o formato com o excepcional Blackout, gravado há longínquos dez anos. Num esquema minimal, Marceleza repassa Raul Seixas (Check Up), tira um sarro de Robert Plant e seus agudos com When the Levee Breaks e reconstrói suas raízes rocker com I Fought the Law e Não Fosse o Cabral (versão hilária para Slipping and Sliding, de Little Richard). Ele não deixa por menos e também se auto-relê, levando Eu Não Matei Joana D'Arc, Noite e Dia e Passatempo. De realmente novo, ataca de rockão (Bomba Relógio Ambulante), balada guitarreira (Um Lugar Para Deus) e surpreeende mesmo nos mais de dez minutos de Quando Eu Morri, gravada originalmente por ele e Raul Seixas em 1989.
E de resto, o que há? Há o velho e bom Marcelo Nova, com e sem Raul e o Camisa, e há também o velho e nem tão bom assim Marcelo Nova. Mas de qualquer modo, ele é o que o que é, originalíssima cria da junção entre a estética punk e o amor às raízes primitivas do rock. Refaça então os passos do iconoclasta Marceleza. A gênese "tosqueira" do Camisa de Vênus (Meu Primo Zé, Controle Total, Beth Morreu), com a qual o grupo mostrava haver punk rock brasileiro fora do eixo SP/DF. Daí, a consolidação do sardônico e corrosivo som do grupo, incorporando na careta canções alheias (O Adventista), irritando as feministas (Sílvia), e afinal chegando ao sucesso (Eu Não Matei Joana D'Arc, Simca Chambord, Deus Me Dê Grana). Fechado o capítulo Camisa - que seria reaberto brevemente em 1995 - o iconoclasta se amiga com o ídolo Raul, numa curta parceria que rendeu muitos shows e um punhado de canções (inclusas no álbum A Panela do Diabo) antes da morte de Raulzito em 1999. Em Tijolo na Vidraça, estão Quando Eu Morri, Rock'n'roll e Carpinteiro do Universo. O resto é dedicado a sua errática (em termos comerciais) carreira solo nos anos 90. As músicas de Blackout (Robocop, Fogo do Inferno) brilham mais que as outras, tiradas dos irregulares Sessão Sem Fim (94) e Eu Vi o Futuro Baby, Ele É Passado (96).
Tributo porreta, que deixa bem clara toda a estatura de Marcelo Nova -para bem e para mal, com erros e acertos - no nosso rock. Figuras como ele são raras e merecem provas de respeito como essa. Mesmo sendo, como ele é, um notório desrespeitador. (Marco Antonio Barbosa)
As faixas são arrumadas nos três CDs sem muita ordem cronológica, mas não é difícil pescar as novidades apresentadas por Marcelo. As músicas novas, em boa parte, são covers em embalagem acústica. Antes de acusar o baiano de estar embarcando em qualquer onda desplugada, vale lembrar que ele já tinha testado o formato com o excepcional Blackout, gravado há longínquos dez anos. Num esquema minimal, Marceleza repassa Raul Seixas (Check Up), tira um sarro de Robert Plant e seus agudos com When the Levee Breaks e reconstrói suas raízes rocker com I Fought the Law e Não Fosse o Cabral (versão hilária para Slipping and Sliding, de Little Richard). Ele não deixa por menos e também se auto-relê, levando Eu Não Matei Joana D'Arc, Noite e Dia e Passatempo. De realmente novo, ataca de rockão (Bomba Relógio Ambulante), balada guitarreira (Um Lugar Para Deus) e surpreeende mesmo nos mais de dez minutos de Quando Eu Morri, gravada originalmente por ele e Raul Seixas em 1989.
E de resto, o que há? Há o velho e bom Marcelo Nova, com e sem Raul e o Camisa, e há também o velho e nem tão bom assim Marcelo Nova. Mas de qualquer modo, ele é o que o que é, originalíssima cria da junção entre a estética punk e o amor às raízes primitivas do rock. Refaça então os passos do iconoclasta Marceleza. A gênese "tosqueira" do Camisa de Vênus (Meu Primo Zé, Controle Total, Beth Morreu), com a qual o grupo mostrava haver punk rock brasileiro fora do eixo SP/DF. Daí, a consolidação do sardônico e corrosivo som do grupo, incorporando na careta canções alheias (O Adventista), irritando as feministas (Sílvia), e afinal chegando ao sucesso (Eu Não Matei Joana D'Arc, Simca Chambord, Deus Me Dê Grana). Fechado o capítulo Camisa - que seria reaberto brevemente em 1995 - o iconoclasta se amiga com o ídolo Raul, numa curta parceria que rendeu muitos shows e um punhado de canções (inclusas no álbum A Panela do Diabo) antes da morte de Raulzito em 1999. Em Tijolo na Vidraça, estão Quando Eu Morri, Rock'n'roll e Carpinteiro do Universo. O resto é dedicado a sua errática (em termos comerciais) carreira solo nos anos 90. As músicas de Blackout (Robocop, Fogo do Inferno) brilham mais que as outras, tiradas dos irregulares Sessão Sem Fim (94) e Eu Vi o Futuro Baby, Ele É Passado (96).
Tributo porreta, que deixa bem clara toda a estatura de Marcelo Nova -para bem e para mal, com erros e acertos - no nosso rock. Figuras como ele são raras e merecem provas de respeito como essa. Mesmo sendo, como ele é, um notório desrespeitador. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas
DISCO 1
DISCO 2
DISCO 3