TÔ VIRADO

A Mary’s Band convence tão somente pela rara união da garra e eficiência. Inovação, inteligência, maturidade, poesia, nenhuma dessas palavras serve para se falar de Tô Virado. Apesar da pouca idade – e de se tratar de um disco de estréia –, os moleques se mostram verdadeiros profissionais do power pop: aquele som que faz sair ventinho do alto falante ao mesmo tempo em que dá vontade de cantar junto. Pudera: as letras são simples e as músicas quase sempre repetem com graça algumas fórmulas já bastante usadas. Extremamente bem gravado e bem produzido – o que é mais um indicador de que o Brasil superou as deficiências técnicas que marcaram seu rock nos anos 80 –, o disco da Banda da Maria se ocupa, com toda a superficialidade e inconseqüência, de todos os temas que possam ser relacionados à adolescência: drogas, sexo, noitadas, vestibular, contestação do poder paterno etc. A franqueza é total – e a coisa volta e meia resvala para um curioso mau gosto, como na edipiana e ramoniana Minha Mãe Tá Louca ("minha mãe tá louca/ pra beijar minha boca") e Coliforme Fecal, que dispensa citações da letra. Volta e meia, o quarteto se trai revelando aquela que parece ser sua maior influência: os californianos do Green Day, com muito refrãozinho fácil e um fluxo constante de energia. De qualquer forma, a tradução para o português é eficiente e se revela em algumas letras um pouco mais inspiradas, como a de Abismo (que remete ao eterno Juventude Transviada), Vestibular ("Sei todas as questões que caem no seu vestibular") e Pai me Dê Grana (o Papai me Empresta o Carro do ano 2000). Com guitarras que passam rasgando, vocais afinados e batidas certeiras, a Mary’s Band já domina todos aqueles truques que as outras bandas levam mais tempo para aprender – e, no final das contas, fez um disco bem divertido. Mas para quem acompanhou com atenção o rock brasileiro dos anos 80, os meninos parecerão mais é uma espécie de Bom Bom (a banda pós-adolescente do hit Vamos a La Playa, quem lembra?) com um pouco mais de volume nos amplificadores.(Silvio Essinger)