TOM JOBIM VILLA-LOBOS

Distribuído nas bancas de jornais junto com uma revista que traz a discografia completa, fotos inéditas, comentários sobre a obra e inventário de todas as trilhas sonoras assinadas pelo músico, esta nova ligação erudito/popular empreendida pelo pianista e maestro Wagner Tiso com o Rio Cello Ensemble sai por um preço camarada, R$11,90. É uma forma sagaz de atingir um público maior que o das salas de concerto onde seria mais comum degustar um encontro das obras afins de Tom Jobim (1927-1994) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959). O próprio Wagner, como alista a publicação que acompanha o disco, já visitou a dupla (em separado) diversas vezes. Em 1980, ele adaptou Caicó (incluída no CD), tema folk trabalhado por Villa para o disco Sentinela de Milton Nascimento. Em 1987, nas comemorações do centenário do compositor, rodou o Brasil e a Espanha com seus temas, incluindo as fantasias que fez sobre sua obra, Choros nº 10 e Mandu-Çarará (ambas também no CD). Esta última inspiraria, em 1988 Manu Çaruê, uma obra holística/multimídia. Quanto a Jobim, em 1985 Wagner apresentava uma suíte para 20 solistas com a obra do compositor no Teatro Municipal, utilizava seu repertório com o Rio Cello Ensemble numa turnê européia em 1995, e interpretava uma Suíte Jobiniana para Piano e Orquestra em São Paulo e Brasília nos dois anos seguintes.

Villa, que bebeu no choro, folclore e freqüentou os sambistas, era ídolo de Jobim, que debruçou-se nos impressionistas e tomou algo emprestado ao jazz no molde da bossa nova. Para dar mais liga, Wagner preferiu as canções aos sambas de Jobim. Estes, ele soldou num medley que funciona mais como suíte onde partes autônomas de Se Todos Fossem Iguais a Você, Samba do Avião, Garota de Ipanema e Samba de Uma Nota Só são retrabalhados numa nova peça. Não falta uma ginga de corpo (após um interlúdio abaionado) a Garota, mas o ritmo deixa de ser o essencial. Wagner enfatiza o lado melódico do compositor como na extensa (e bela) recriação de Eu Sei que Vou Te Amar, onde as cordas do Rio Cello Ensemble dialogam nos contrapontos sugeridos pelas harmonias jobinianas. Também solitária, Luiza flutua entre brumas de cordas e um piano breve. O encaixe da sombria Chora Coração, picotada em escalas bachianas com a camerística Modinha (ambas de Jobim), opera com a mesma fluência da junção das villalobianas Canção de Amor e Melodia Sentimental. Já o Trenzinho do Caipira (tantas vezes tomado pela MPB) soa um tanto esmaecido na seqüência de acordes plenos da Embolada e Prelúdio da Bachiana nº1. Em compensação, o tríptico Caicó, Modinha e Prelúdio nº 3 tem um engate perfeito e as fantasias Choros nº 10 e Mandu-Çarará adicionam, sem favor, o nome de Wagner ao duo de autores do disco. (Tárik de Souza)