TUDO BEM

De meninas sem-teto que cantavam nas ruas do Rio de Janeiro para sobreviver a estrelinhas do pop nacional, Pepê e Neném viveram uma história de Cinderela. No entanto, a ânsia dos produtores em vendê-las ao rádio e TV fez com que seu primeiro disco fosse decepcionante. As gêmeas têm boas vozes – justamente o que falta a 99% das armações pop – e são muito bem enfronhadas na música black music, de tanto ouvir e instintivamente coverizar as canções de Michael Jackson, Whitney Houston e cia. Para quem esperava vê-las ao lado de um Tim Maia e Sandra de Sá (ou uma Fat Family, pelo menos) e não de um Backstreet Boys, pode começar a comemorar com o segundo disco delas: Tudo Bem. A faixa-título é uma pérola funk do falecido Robson Jorge, relida com garra pelas meninas, com um arranjo do parceirão do autor nos anos 70, o tecladista Lincoln Olliveti (que assina também no disco o arranjo de outra releitura de Robson, a de Pra Lhe Fazer Feliz). Lembra bastante a Cláudia Telles de duas décadas atrás, com o estouro da balada soul Fim de Tarde (composta por Robson e Mauro Motta). Pena que a faixa seja exceção num disco orientado pelas fórmulas fáceis de rádio, resumidas na música Quero Te Ver, em que ainda assim Pepê & Neném driblam a mediocridade com suas vozes macias e seguras. Ah, e não poderiam faltar em Tudo Bem as inevitáveis versões em português de hits internacionais. Ao menos, estes se mantiveram dentro de uma certa linha de bom gosto: Wild World, de Cat Stevens (a matriz é a releitura reggae de Maxi Priest) e After The Love Has Gone (balanço romântico popularizado pelo Earth Wind & Fire). Mas tudo bem, agora as meninas estão cada vez mais perto de chegar num disco bacana. Cotação: * (Silvio Essinger)