MANGUEIRA CHEGOU
Velha Guarda da Mangueira / Nelson Sargento (1989)
Crítica
Cotação:
Nem juntando todos os cientistas sociais do mundo seria possível descobrir a fórmula alquímica das escolas de samba: como é possível transformar a miséria em lirismo? Escassez apenas monetária, porque aqui se trata de um encontro de ricas personalidades. Gente que soube tirar o máximo de partido (alto, diga-se) espiritual do pouco que lhe foi concedido em termos materiais, como radiografa o incrível samba A Vida do Trabalhador, de Jorge Zagaia, cantado pelo próprio: "O morro é um paraíso aberto/ quem não acredita, venha ver de perto/ quando vem caindo a tarde/ vem subindo a ladeira cheio de felicidade/ o pobre trabalhador, que durante o dia trabalhou/ trabalhou, trabalhou, trabalhou". Claro, o samba é antigo, hoje o pobre trabalhador tem de desviar-se das granadas perdidas da guerra do tráfico, enquanto o ritmo nervoso, seccionado do rap (ou do funk) dita com maior urgência os novos (e piores) tempos. Daí o valor (não apenas documental) deste CD gravado em 1988 pelo abnegado produtor japonês Katsunori Tanaka. Trata-se de outro milagre inexplicável mesmo pelos estudiosos diplomados na Sorbonne, Yale ou Harvard. Ainda antes de implantar-se em definitivo o fenômeno da globalização, um nativo do outro lado do planeta que nem sabia português, encantou-se com os sambas de Cartola e veio à Mangueira conferir, como ele conta no encarte.
Chegou atrasado, seu ídolo tinha morrido, mas ainda encontrou vivos o longevo patriarca Carlos Cachaça (que a muito custo ele convenceu a registrar sua parceria com Cartola, o samba-enredo Ciência e Arte, regravado por Gilberto Gil no disco Quanta), Aluísio Dias (mentor da idéia da reunião de uma Velha Guarda mangueirense, que morreria logo depois da gravação) e outros bambas como Nelson Sargento, o já citado Zagaia, Zé Ramos, Quincas, Zeca e o lendário Babaú (co-autor do clássico de Aracy de Almeida Tenha Pena de Mim). Com suas vozes crestadas pelo tempo eles desfilam pérolas de denso recheio melódico e sentimental como Vou Viver a Minha Vida (Babaú), Mangueira Chegou (de Zé Ramos com o curioso verso, "mangueira vai mostrar que ainda é braço"), Meu Amigo, Violão (Aluísio Dias, com o próprio ao violão mais o produtor musical Paulão no sete cordas que lhe valeu o sobrenome artístico) e Mangueira, Divina e Maravilhosa (Nelson Sargento, com o próprio).
O garimpo revela ainda algumas pedras preciosas esquecidas de Cartola como Pedi Perdão, pela voz personalíssima (e nunca aproveitada pelo mercadão) de sua filha adotiva Creuza, e O Amor é Isso, também por Creuza e o parceiro dele, Aluísio Dias. Padeirinho, outro mestre da composição verde-e-rosa é lembrado em Amargura, parceria com Quincas do Cavaco que leva o cadenciado samba no gogó, e na faixa Partido Alto de Padeirinho, na verdade uma colagem de refrões de partido alto, alguns bastante manjados como "Dona Maria das couve/ o que é que houve/ o que é que há" e "tanto faz dar na cabeça/ como na cabeça dar". O roteiro termina engarrafado em dois pot-pourris de seis sambas ao todo (Divina Dama, Exaltação à Mangueira, Não Quero Mais Amar a Ninguém, entre eles) cantados em coro, uma solução tosca para um disco tão afetivo e fundamental. Mas é compreensível, "seo" Tanaka ainda estava aprendendo.(Tárik de Souza)
Chegou atrasado, seu ídolo tinha morrido, mas ainda encontrou vivos o longevo patriarca Carlos Cachaça (que a muito custo ele convenceu a registrar sua parceria com Cartola, o samba-enredo Ciência e Arte, regravado por Gilberto Gil no disco Quanta), Aluísio Dias (mentor da idéia da reunião de uma Velha Guarda mangueirense, que morreria logo depois da gravação) e outros bambas como Nelson Sargento, o já citado Zagaia, Zé Ramos, Quincas, Zeca e o lendário Babaú (co-autor do clássico de Aracy de Almeida Tenha Pena de Mim). Com suas vozes crestadas pelo tempo eles desfilam pérolas de denso recheio melódico e sentimental como Vou Viver a Minha Vida (Babaú), Mangueira Chegou (de Zé Ramos com o curioso verso, "mangueira vai mostrar que ainda é braço"), Meu Amigo, Violão (Aluísio Dias, com o próprio ao violão mais o produtor musical Paulão no sete cordas que lhe valeu o sobrenome artístico) e Mangueira, Divina e Maravilhosa (Nelson Sargento, com o próprio).
O garimpo revela ainda algumas pedras preciosas esquecidas de Cartola como Pedi Perdão, pela voz personalíssima (e nunca aproveitada pelo mercadão) de sua filha adotiva Creuza, e O Amor é Isso, também por Creuza e o parceiro dele, Aluísio Dias. Padeirinho, outro mestre da composição verde-e-rosa é lembrado em Amargura, parceria com Quincas do Cavaco que leva o cadenciado samba no gogó, e na faixa Partido Alto de Padeirinho, na verdade uma colagem de refrões de partido alto, alguns bastante manjados como "Dona Maria das couve/ o que é que houve/ o que é que há" e "tanto faz dar na cabeça/ como na cabeça dar". O roteiro termina engarrafado em dois pot-pourris de seis sambas ao todo (Divina Dama, Exaltação à Mangueira, Não Quero Mais Amar a Ninguém, entre eles) cantados em coro, uma solução tosca para um disco tão afetivo e fundamental. Mas é compreensível, "seo" Tanaka ainda estava aprendendo.(Tárik de Souza)
Faixas
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A Mangueira não morreu (Jorge Zagaia)
Divina dama (Cartola)
Não quero mais amar a ninguém (Carlos Cachaça - Cartola)
Divina dama (Cartola)
Não quero mais amar a ninguém (Carlos Cachaça - Cartola)
14
Pot-pourri da Mangueira II
(Darcy da Mangueira, Alfredo Português, Aluísio, Hélio Turco, Nelson Sargento, Jurandir, Enéias Britz)
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(Darcy da Mangueira, Alfredo Português, Aluísio, Hélio Turco, Nelson Sargento, Jurandir, Enéias Britz)
Cânticos à natureza "Primavera" (Alfredo Português - Nelson Sargento)
O mundo encantado de Monteiro Lobato (Darcy da Mangueira - Élio Turco - Jurandir)
Exaltação à Mangueira (Aluísio - Enéias Britz)
O mundo encantado de Monteiro Lobato (Darcy da Mangueira - Élio Turco - Jurandir)
Exaltação à Mangueira (Aluísio - Enéias Britz)
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