VELHAS COMPANHEIRAS - MANGUEIRA & PORTELA
Guilherme de Brito / Nelson Sargento / Monarco (2000)
Crítica
Cotação:
Um encontro de bambas celebrando o companheirismo entre as duas escolas mais tradicionais em atividade — Mangueira e Portela — só a muito custo daria errado. "Portela e Mangueira sempre foram as primeiras dos idos carnavais" diz a letra de Velhas Companheiras, samba de Monarco incluído no repertório deste CD que levou o mesmo nome. Gravado em 1999 para o mercado japonês por iniciativa do produtor japonês Katsunori Tanaka (com co-produção de Henrique Cazes), o disco chega em um pacote oriental de samba, juntamente com os discos da velhas guardas das duas escolas gravados na década de 80 (também por Tanaka) e nunca lançados em CD no Brasil. Trazendo na capa Guilherme de Brito, Nelson Sargento e Monarco, o disco é mais deste último, que canta em cinco faixas (em uma delas acompanhado pela Velha Guarda da Portela), do que dos outros dois. Tanto Guilherme quanto Nelson só cantam duas músicas cada um. O primeiro vem com dois de seus maiores sucessos ao lado do parceiro Nelson Cavaquinho, Folhas Secas e Pranto de Poeta, em arranjos clássicos. E Nelson sola dois sambas, Sala de Recepção, de Cartola, ao lado da pastora Esther, e Cântico à Natureza (Primavera), de Sargento e Alfredo Português, outro grande êxito. Vale pelo registro desses dois mestres da música brasileira, mas Monarco é de longe o melhor cantor, com seu timbre decidido e afinação precisa. A primeira faixa, uma mistura de dois sambas com mesmo tema (Alvorada, de Cartola e Cachaça, e Manhã Brasileira, de Manacéa) provenientes das duas escolas, é interpretada pelo grupo de pastoras As Gatas (Dinorah, Nara, Zélia e Zenilda). Elas, se não são exatamente um primor de afinação, traduzem muito bem a particular "técnica vocal" das pastoras de escolas de samba, mais preocupadas em registrar o samba e se divertir do que com coisas como impostação ou afinação. Esther ganha um solo em Quem Me Vê Sorrindo e faz uma leitura convencional, que não compromete tampouco acrescenta tanta coisa. Fica sem explicação a inclusão de Gosto que me Enrosco (de Sinhô, lançado por Mário Reis em 1929) e Quando o Samba Acabou (Noel Rosa, interpretada por Cristina Buarque), afinal seus autores não têm relações tão profundas com nenhuma das duas escolas, e nem os sambas em questão foram dedicadas a elas. É sabido que Noel tinha simpatia pela Mangueira e era grande amigo de Cartola. Por isso, bastava ter no repertório a parceria dos dois, Não Faz Amor, cantada por Monarco. Cristina participa ainda cantando a linda Vaidade de um Sambista, do portelense Chico Santana ("Ganhar todo mundo sabe/ sorrir e sentir prazer/ mas o bonito é saber perder") e Wilson Moreira canta um samba de sua autoria. Destaca-se também o belo arranjo, valorizando os instrumentos de sopros, para Cidade Mulher, de Paulo da Portela, gravado pela Velha Guarda em seu disco Doce Recordação, relançado no mesmo pacote. Com músicos de tarimba (Paulão 7 Cordas, Henrique Cazes, Beto Cazes, Mauro Diniz, Gordinho, Cristiano Alves, Andréa Ernst Dias, Eliezer Rodrigues), a produção é elegante e traz uma capa bonita — pena que o encarte venha cheio de erros —, e acrescenta boas versões a um repertório já tão regravado.(Nana Vaz de Castro)
Faixas
Manhã brasileira (Manacéa)
Portela querida (Chatim)
Chegou a hora de caminhar (Francisco Santana)
Chegou a hora de caminhar (Francisco Santana)