Ventura

Los Hermanos (2003)

2003
BMG
Crítica

Cotação:

Os Los Hermanos são no momento a mais peculiar banda do pop brasileiro. Essa constatação não é nem um elogio, nem uma crítica. Difícil negar ao grupo carioca o mérito de ter peitado gravadora, fãs ranhetas e milhões de expectativas, para fazer valer sua visão musical absolutamente própria; um mergulho que rendeu o aclamado Bloco do Eu Sozinho, disco no qual os LH trocaram a segurança do sucesso fácil pela coragem de fazer só o que queriam da vida. E como se prossegue depois de uma obra de ruptura como o Bloco? No novo disco, Ventura, a banda - ainda bem - não se mostra preocupada em "jogar para a torcida" (seja ela o povão que só conhece Anna Julia, seja ela os indies que se apaixonaram pelo "radicalismo" do segundo disco). A grosso modo, o grupo retorna para as canções menos rebuscadas (na forma), mais diretas, do primeiro disco. Há menos metais nos arranjos, as harmonias estão menos sinuosas. Ao mesmo tempo, sofisticam-se infinitamente as diferenças entre os estilos dos dois compositores do grupo, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante - que abdicaram de escrever juntos. Aí reside outra, talvez a maior peculiaridade, dos LH: "esbanjar" dois talentos tão diversos na mesma banda, numa época de declaradas vacas magras na criatividade do rock brazuca. A pergunta agora é: levando-se em consideração essa mediocridade da cena, existirá espaço para um grupo tão idiossincrático?

O flerte com o tradicionalismo (samba, MPB convencional) que temperou decisivamente Bloco ainda se faz presente. O recado é dado já na abertura, na irônica Samba a Dois. Mas apenas aqui e na boa Do Lado de Dentro essa faceta emerge com mais força. O que se sente é que Camelo e Amarante incorporam o espírito da tradição, sem ter que botar um reco-reco em todas as faixas para provar isso. Enquanto algumas das faixas poderiam estar, sem muitos retoques, no primeiro disco da banda (Cara Estranho, O Vencedor, Deixa o Verão), e outras, no segundo (a citada Do Lado de Dentro, com sua metaleira, é o melhor exemplo), sente-se que a banda progrediu para além de meras inspirações requentadas. Nas intervenções de Amarante, emergem pequenas pérolas melancólicas e climáticas, como Ultimo Romance e O Velho e o Moço. No mesmo tom, Camelo contribui com a emoção explícita de De Onde Vem A Calma. Mas também se destaca com a suposta esquisitice de A Outra (na qual narra-se um caso de adultério sublinhado por uma levada cheia de latinidad).(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Samba a dois Ouvir
(Marcelo Camelo)
2 O vencedor Ouvir
(Marcelo Camelo)
3 Tá bom Ouvir
(Marcelo Camelo)
4 Último romance Ouvir
(Rodrigo Amarante)
5 Do sétimo andar Ouvir
(Rodrigo Amarante)
6 A outra Ouvir
(Marcelo Camelo)
7 Cara estranho Ouvir
(Marcelo Camelo)
8 O velho e o moço Ouvir
(Rodrigo Amarante)
9 Além do que se vê Ouvir
(Marcelo Camelo)
10 O pouco que sobrou Ouvir
(Marcelo Camelo)
11 Conversa de botas batidas Ouvir
(Marcelo Camelo)
12 Deixa o verão Ouvir
(Rodrigo Amarante)
13 Do lado de Dentro Ouvir
(Marcelo Camelo)
14 Um par Ouvir
(Rodrigo Amarante)
15 De onde vem a calma Ouvir
(Marcelo Camelo)
 
Ventura