VINDO LÁ DA LAGOA
Caju e Castanha (2000)
Crítica
Cotação:
Num momento em que tantos artistas limitam-se a copiar o que vem de fora, esquecendo-se que aqui mesmo há uma usina de sons a ser reciclada, a dupla pernambucana Caju e Castanha tem o mérito de resgatar o melhor de nossos ritmos nordestinos – coco e embolada à frente. E mesmo com suas influências externas, o som que predomina é o brasileiro mesmo. Com direito a sotaque, muito ritmo e versos seguindo a tradição dos repentistas que, dependendo da música, são mais ou menos inspirados. Depois de mais de 20 anos de estrada, porém ainda sem projeção nacional, a dupla faz um som atualmente que é uma mistura de Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Falcão. Há músicas satíricas que falam de "corno", de "mulher de amigo meu" e outras do gênero, com jeito de piadinhas de salão, que lembram muito Falcão. O timbre vocal de um dos integrantes lembra Genival, especialmente quando canta versos safados como "Mulher de amigo meu pra mim é violino/ Eu viro a cara e meto a vara". A rítmica da embolada e o jeito de dividir e o sotaque lembram Jackson do Pandeiro – homenageado, com outros ases da MPB, na faixa Forrómangue. Em Vindo Lá da Lagoa e Purucutruco, duas das melhores faixas do CD, dá mesmo para imaginar o Rei do Coco as entoando. Outros dois bons momentos do disco são a regravação da ótima Bigorrilho, hit do "caricaturista do samba", Jorge Veiga, e a faixa de encerramento, Embolando na Embolada – única a mergulhar efetivamente na raiz do gênero, apenas com a disputa vocal entre os dois repentistas, e acompanhamento de pandeiro, acelerando à medida que vai chegando ao fim. Os senões do disco ficam por conta de alguns arranjos, que poderiam ser menos pálidos. Às vezes aparecem uns tecladinhos com programação que soam um pouco anacrônicos a uma dupla de intérpretes tão original, como na faixa No Aboio de Vaqueiro. Parte do repertório também está aquém do talento interpretativo da dupla, como a faixa Zé Vigia, apelativa, totalmente dispensável, e a politicamente correta Favela da Rocinha – absolutamente sem graça. O melhor é mesmo o vigor interpretativo da dupla, quando os arranjos e o repertório ajudam.
(Rodrigo Faour)
Faixas
6
Desafio do Fla-Flu