VIOLA NORDESTINA
Heraldo do Monte (2000)
Crítica
Cotação:
O título do disco propõe um saudável desafio já que a viola ficou mais ligada à música caipira/sertaneja do centro/sudeste. Desde o requintado Quinteto Novo, em meados dos 60 (ao lado de Hermeto Pascoal, Airto Moreira e Theo de Barros), o pernambucano de Recife Heraldo do Monte, nascido em 1935, exercita essa outra caligrafia. Mostra o instrumento de sonoridade mais aberta e ressoante que o violão aceitando qualquer moldura, dedilhado por quem sabe. E a maestria de Heraldo - iniciada numa gaitinha de boca, seguida da requinta e daí para o clarinete, antes de mergulhar nas cordas - viaja no CD também por violões de aço e nylon, baixola e contrabaixo. Com ele, apenas o filho Luis do Monte (violões de aço e nylon) e o percussionista Déo de Araújo. O disco está longe daqueles exercícios egocêntricos de virtuosismo vazio. Inspirado por guitarristas de jazz elegantes como Barney Kessel e Tal Farlow (Joe Pass, outro deles, o colocaria mais tarde entre os maiores do mundo), Heraldo incorpora o improviso ao cerne do tema e não dá mole para a divagação. Em Sebastiana, o coco de sucesso de Jackson do Pandeiro, o ambiente é incendiário como o de qualquer forró, na sequência do baião preparatório Qui Nem Giló (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira). Em compensação, o lirismo de Lamento Sertanejo (Gilberto Gil/ Dominguinhos) flui macio e comovente como o samba canção Maria Bethânia, do pernambucano Capiba, mais associado ao universo nordestino pelo fato de ter inspirado ao mano Caetano Veloso o nome da cantora de Carcará.
Há também uma marcha rancho do próprio Heraldo (Primeiro Sorriso), mas o restante do repertório ostenta um orgulhoso sotaque, do baião Xanduzinha (outra da dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) ao Cabocolinho (do próprio Heraldo), Estrela Maga dos Ciganos (do baiano erudito Elomar) e a faixa título Viola Nordestina, onde o instrumento do autor ressoa da cantoria ao aboio em ataques recorrentes onde misturam-se o refinamento estético e a densidade cultural da região.(Tárik de Souza)
Há também uma marcha rancho do próprio Heraldo (Primeiro Sorriso), mas o restante do repertório ostenta um orgulhoso sotaque, do baião Xanduzinha (outra da dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) ao Cabocolinho (do próprio Heraldo), Estrela Maga dos Ciganos (do baiano erudito Elomar) e a faixa título Viola Nordestina, onde o instrumento do autor ressoa da cantoria ao aboio em ataques recorrentes onde misturam-se o refinamento estético e a densidade cultural da região.(Tárik de Souza)
Faixas