WANDA SÁ & BOSSA TRÊS

Lendário grupo da era Beco das Garrafas da bossa nova, o Bossa Três reaparece com outro baterista (João Cortez no lugar do falecido Edison Machado do período inicial e mais tarde Ronnie Mesquita) e os mesmos Luis Carlos Vinhas (piano) e Tião Neto (baixo). O trio estabelece um intenso diálogo – que supera o mero acompanhamento – com a cantora Wanda Sá, outra remanescente do movimento inicial, que estreou no LP Vagamente em 1964, relançado recentemente com sucesso no Japão. Esse CD aliás também faz parte de um pacote nipônico editado aqui pelo selo Deck do produtor João Augusto, especialista no mercado daquele país. Com exceção de Garota de Ipanema, o repertório foge ao óbvio abrindo no suíngue de Errinho à Toa, pérola subestimada da dupla Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Segue por Deixa a Nega Gingar, samba do mineiro Luis Cláudio incorporado ao repertório da bossa assim como Pra Machucar Meu Coração (Ary Barroso) e até Palpite Infeliz (Noel Rosa), embutidos num pot-pourri . Há três outros espécimes dessa discutível prática no CD. O melhor casa Estrada do Sol e Foi a Noite, marco inicial da bossa. A última acoplagem reduz Two Kites (de letra belíssima e espirituosa escrita diretamente em inglês pelo autor Tom Jobim) a um breve scat singing e acelera demais Fotografia (do mesmo autor). Mas além dos supracitados, o disco (enriquecido pelos improvisos e contracantos do trio) tem outros picos na lânguida Brisa do Mar (João Donato/ Abel Silva), na versão funkiada de Zazueira ( Jorge Ben), no scat de Casa Forte ou na etérea Canção que Morre no Ar. Em recente entrevista à revista Showbizz, Ray Manzarek, o tecladista do grupo de rock americano The Doors, disse que eles faziam música inspirados na bossa nova. Wanda Sá casualmente devolve o afago regravando o clássico da banda, Light my Fire.(Tárik de Souza)