ZUM ZUM

Canções despretensiosas, navegando entre os mares do pop e da bossa pontuam o disco do guitarrista e produtor Affonsinho. Acompanhado na maioria das faixas apenas pelo baixolão fretless de Ivan Correa e a percussão de Bill Lucas, Affonsinho assina 12 das 14 composições deste que é seu disco de estréia de sua carreira solo. Duas das mais interessantes são resultado da parceria com Chico Amaral (autor de diversas músicas do Skank, parceiro de Ed Motta, Lô Borges): Frank, Tate e Eu e A Última Vez que Olhei o Rio. Relatos de mineiros observadores das estranhezas das maiores cidades do país, Frank, Tate e Eu mostra, através de um sambinha, três visões diferentes mas igualmente atônitas de São Paulo, enquanto A Última Vez que Olhei o Rio puxa uma bossa nova que também traz a clara sensação de alguém que está apenas de passagem, e que conhece a cidade por meio de relatos de terceiros ("a última vez que olhei o Rio/ não houve milagres nem assassinatos/ podia trazer unidas num fio/ poesia e a mais dura versão dos fatos"). Há ainda ecos de folk em A Felicidade Ali e pitadas de bom humor em algumas letras. Impossível não sorrir diante do apelo de Achar um Coração, "Preciso de um coração/ que seja bem grandão, não como um grão/ pra aliviar a solidão", cantado por cantores mirins, mas nem por isso menos compenetrados em sua interpretação. Rua Ramalhete, sucesso de Tavito no fim da década de 70, é a única releitura. Nesta versão voz-e-violão, Affonsinho traz à tona mais uma vez a mineirice explícita ("daquelas tarde/ no muro do Sacré Coeur/ de uniforme e olhar de rapina/ nossos bailes no clube da esquina"). A patofu Fernanda Takai comparece nos vocais em O Amor Não Acaba pra Quem É do Bem, balada otimista para relacionamentos desfeitos, e João Gilberto é a inspiração confessa de Violão e Eu, outra boa bossa de voz e violão (violão que aliás não lembra muito João Gilberto, mas sim Caetano Veloso tocando como João Gilberto). Simples e bem feito, uma boa pedida.(Nana Vaz de Castro)