(Re)nasce uma estrela em Maria Rita Mariano

Filha de Elis e Cesar Camargo estréia em CD com grande esquema de marketing - e expectativas ainda maiores

Mônica Loureiro
18/09/2003
Maria Rita(clique para ampliar)
Há mais de um ano, precisamente no dia 6 de maio de 2002, o meio musical brasileiro entrou em rebuliço. Afinal, estreava profissionalmente, como cantora, Maria Rita. Para quem ainda não liga o nome ao parentesco, a jovem é filha de Elis Regina e César Camargo Mariano, e irmã de Pedro e Marcelo Mariano e João Marcelo Bôscoli. Agora, ela está lançando seu primeiro CD pela Warner Music. E mesmo com todo peso que carrega por pertencer a uma família de tantos nomes importantes da música nacional - onde, sem dúvida, a estrela é Elis -, demonstra segurança ao falar de seu disco homônimo. "A semelhança é genética", garante Maria Rita em relação às incontáveis vezes em que é questionada sobre a similaridade de voz e gestos entre ela e a mãe.

O lançamento de Maria Rita está sendo feito com todo cuidado. No último dia 15, houve uma prévia do show no Canecão (RJ) - o início da turnê é no dia 17 de outubro, que ficou lotado de VIPs de todos as tribos. Já no show do dia 15, a cantora recebeu das mãos da diretoria da Warner Music o disco de ouro pelas mais de cem mil cópias vendidas de seu álbum. A coletiva de imprensa, ocorrida na semana passada, já foi um grande acontecimento, com jornalistas das principais capitais reunidos no Copacabana Palace. Maria Rita estava devidamente assistida por sua empresária Juliana Funaro, pelo diretor de marketing da Warner, Marcelo Maia, além dos assessores particulares e da gravadora.

Simpática, descalça e à vontade em um sofá, ela respondeu tranquilamente às perguntas que couberam em uma hora de entrevista. A estréia profissional foi ano passado no Supremo Musical, em São Paulo, ao lado do músico Chico Pinheiro, mas a primeira vez em que Maria Rita pisou no palco foi bem diferente: "Eu deveria ter uns 12 anos, fazia backing vocal numa banda de meu irmão Pedro. Nem me lembro o nome... acho que nem ele!", diverte-se. Maria Rita passou oito anos nos Estados Unidos, e foi lá onde amadureceu a idéia de se tornar cantora. "Me mudei aos 16 anos com meu pai, e minha intenção era ficar apenas um ano. Dos oito que passei, morei sozinha por quatro anos em Manhattan, estudei Comunicações Sociais, convivi com gente do mundo inteiro. E tinha a intenção de, ao voltar ao Brasil, fazer uma revista sobre política para adolescentes. Vejam até aonde vai a loucura da pessoa...", brinca.

Esse distanciamento de sua terra natal ajudou a superar barreiras particulares: "Estando lá, tive a chance de olhar de outra forma para a minha família. Foi aí que entendi que a semelhança com minha mãe e sua influência no meu trabalho são genéticas. Nem escuto minha mãe tanto como escuto Ella Fitzgerald, Nat King Cole, Cássia Eller ou Djavan. Mas entendo que a comparação é inevitável e natural. Meu pai mesmo, vivia fazendo comentários do tipo `nossa, agora você fez igualzinho à sua mãe'". Com 26 anos atualmente, Maria Rita diz que cantar sempre foi natural para ela. "Mas descobrir o que eu iria fazer com isso é que foi um processo lento. Não sabia se queria cantar porque muita gente insistia para que eu seguisse carreira, ou se as razões eram legítimas. Um dia, fiz um teste e me perguntei se conseguiria sobreviver sem cantar: descobri que não", revela.

No repertório do disco de estréia, a cantora decidiu ficar longe de músicas que sua mãe já tivesse gravado. "Eu quis manter uma distância, para não misturar uma com a outra. E, mais que isso, eu tenho um certo receio de seu repertório, pois acho que é uma obra-prima, são interpretações definitivas", opina. Quanto à possibilidade de trabalhar com a Trama - gravadora do irmão João Marcelo -, Maria Rita também optou pela distância: "O trajeto de minha família sempre foi o da independência. Eu, por exemplo, comecei fazendo shows numa casa pequena, com um musicista praticamente desconhecido. Gravar pela Trama iria contra essa busca pela indidualidade, afinal, já faço parte daquela turma e precisava achar a minha! Além disso, queria evitar comentários do tipo `Ah, mas sendo irmã do dono, até eu!'...", diz.

O CD tem 13 faixas, mas muita coisa ficou de fora. "Eu tinha 18 prontas! O disco acabou criando vida própria, o que é um processo natural", diz. O trabalho é totalmente voltado à MPB: "Pensei em colocar algo de hip-hop, mas acabei voltando atrás. Quero mostrar a voz, a intérprete, e fiquei com medo de usar elementos que distraíssem", explica. Maria Rita tem canções de Milton Nascimento (A Festa e Encontros e Despedidas, parceria com Fernando Brant), Rita Lee (Agora Só Falta Você, com Luiz Sérgio, e Pagu, com Zélia Duncan), Marcelo Camelo, do Los Hermanos (Veja Bem Meu Bem, Santa Chuva e Cara Valente) entre outros. "O Tom Capone (produtor do disco) foi quem me mostrou o disco Bloco do Eu Sozinho. Aí eu pensei: `Mas por que ele está me dando isso, que é pop/rock?'. Pois quando ouvi, me apaixonei e separei quatro músicas que possivelmente poderiam entrar no disco. Depois, o Marcelo ainda trouxe três inéditas!", lembra. E não se cansa de elogiar o vocalista e guitarrista da banda carioca: "No trabalho dele, letra a música andam casadas, nenhum elemento está aquém do outro. São imagens fortes, com histórias que têm começo, meio e fim e que demonstram inteligência emocional".

Maria Rita diz que as bases do disco foram gravadas ao vivo, com ela cantando junto e que depois a voz foi acertada. "Eu tenho a preocupação com o orgânico, que só se consegue com um clima de palco, ao vivo", defende. O disco também traz uma novidade estratégica da gravadora. Duas músicas estão disponíveis na Internet, somente para quem tem o CD. A última faixa, interativa, leva a um site exclusivo que permite o "download" das músicas Estrela Estrela (Vitor Ramil) e Vero (Natan Marques/Murilo Antunes). "Foi muito difícil reduzir o número de músicas para concluir o disco e para mim foi ótimo, porque não precisei `matar duas'! Achei ótima essa iniciativa, ainda mais vindo de uma muitinacional, pois cria um diálogo maior com um meio que ninguém divida, é o futuro da música", diz.