A (ainda) difícil rota da MPB na Europa
Especial:O jornalista Philip Jandovský analisa a situação atual da música brasileira nos mercados europeus
Philip Jandovský *
16/06/2003
Apesar da sua enorme riqueza e diversidade, a música brasileira nunca pegou nos países
da Europa do Norte, como a Suécia, a Inglaterra e a Alemanha. Mas felizmente esse
quadro já começa a mudar e a música brasileira está, aos poucos, se tornando mais
conhecida, respeitada e amada também nessa parte do mundo. Para a maioria dos
norte-europeus, contudo, “música brasileira” ainda está sinônimo do tipo de samba
exibido pela torcida brasileira durante um jogo de futebol e, possivelmente, Astrud
Gilberto cantando The Girl from Ipanema. Noutras palavras, o conhecimento da
maioria dos norte-europeus sobre música brasileira é mais ou menos nulo.
Então por que é que a música brasileira tem tanta dificuldade de pegar na Europa do Norte? Podem ser distinguidas três razões principais: a língua portuguesa, a atitude das grandes gravadoras internacionais e os preconceitos gerais contra o Brasil.
O primeiro destes pontos – a barreira lingüística – é fácil de entender. Artistas brasileiros geralmente cantam em português, uma língua que poucos norte-europeus falam ou entendem. Com isso, são extremamente poucos os norte-europeus que podem perceber, por exemplo, a grandeza das letras de Caetano Veloso, Chico Buarque ou Arnaldo Antunes. Embora substancial, no entanto, a barreira lingüística não é um obstáculo insuperável, como demonstra o sucesso mundial que fizeram vários artistas cantando em francês e espanhol.
Uma grande parte da culpa da falta de sucesso para a música brasileira na Europa do Norte sem dúvida é das grandes gravadoras internacionais. Há vários erros no seu marketing, mas o pior é que elas teimam em classificar toda música produzida no Brasil como “World Music”, seja qual for o artista ou gênero de música. Não importa se é rock de Rita Lee, forró de Luis Gonzaga ou drum’n’bass de Fernanda Porto - para as gravadoras é tudo a mesma coisa - World Music.
Por causa disso, os discos brasileiros são afastados para as estantes mais obscuras e poeirentas das lojas de música. E além de serem difíceis de encontrar, os discos classificados como World Music são geralmente associados à esquisitice, ao exotismo e ao atraso pelo público. A única banda brasileira que conseguiu escapar inteiramente do carimbo fatal do World Music no mercado norte-europeu são os roqueiros pesadões do Sepultura.
O terceiro e provavelmente mais difícil obstáculo que a música brasileira enfrenta na Europa do Norte é o preconceito. Muita gente na Europa ainda confunde a cultura brasileira com a dos demais países sul-americanos. Está, por exemplo, comum a noção de que espanhol é a língua falada no Brasil e que salsa é o gênero de música mais popular do país. Está também comum uma noção extremamente exagerada das diferenças culturais entre o Brasil e a Europa Ocidental. A idéia (obviamente absurda) de muitos norte-europeus parece ser que um povo, como o brasileiro, cuja cultura é tão estranha e diferente em relação à européia, dificilmente pode ser capaz de criar música que diz respeito ao público da Europa Ocidental.
Contudo, como mencionei no início deste texto, a atitude dos norte-europeus em relação à música brasileira já está mudando. A imagem do Brasil, como país, está se tornando cada vez mais positiva na Europa do Norte, e à luz dessa tendência, a música brasileira também começa a se destacar, especialmente na Inglaterra, mas também nos outros países norte-europeus. Artistas como Rica Amabis, Andrea Marquee, Banda Black Rio e outros artistas brasileiros da década de 70 já foram sucessos nas pistas de dança de muitos clubes. Alguma publicidade nos jornais e na tevê também foi concedida a artistas como Marisa Monte, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jorge Ben, e uma coletânea dos Mutantes recebeu ótimas críticas -tanto que a banda agora conta com uma pequena mas muito entusiástica base de fãs norte-europeus. E, é claro, os discos de Tom Jobim, Baden Powell, e João, Astrud e Bebel Gilberto seguem vendendo. Mesmo que o progresso esteja lento, parece que a música brasileira, apesar dos vários preconceitos e do desinteresse total das gravadoras internacionais, está aos poucos conquistando os corações dos amantes de música também na Europa do Norte. Tal conquista com certeza seria proveitosa, tanto para os norte-europeus quanto para a música brasileira.
Então por que é que a música brasileira tem tanta dificuldade de pegar na Europa do Norte? Podem ser distinguidas três razões principais: a língua portuguesa, a atitude das grandes gravadoras internacionais e os preconceitos gerais contra o Brasil.
O primeiro destes pontos – a barreira lingüística – é fácil de entender. Artistas brasileiros geralmente cantam em português, uma língua que poucos norte-europeus falam ou entendem. Com isso, são extremamente poucos os norte-europeus que podem perceber, por exemplo, a grandeza das letras de Caetano Veloso, Chico Buarque ou Arnaldo Antunes. Embora substancial, no entanto, a barreira lingüística não é um obstáculo insuperável, como demonstra o sucesso mundial que fizeram vários artistas cantando em francês e espanhol.
Uma grande parte da culpa da falta de sucesso para a música brasileira na Europa do Norte sem dúvida é das grandes gravadoras internacionais. Há vários erros no seu marketing, mas o pior é que elas teimam em classificar toda música produzida no Brasil como “World Music”, seja qual for o artista ou gênero de música. Não importa se é rock de Rita Lee, forró de Luis Gonzaga ou drum’n’bass de Fernanda Porto - para as gravadoras é tudo a mesma coisa - World Music.
Por causa disso, os discos brasileiros são afastados para as estantes mais obscuras e poeirentas das lojas de música. E além de serem difíceis de encontrar, os discos classificados como World Music são geralmente associados à esquisitice, ao exotismo e ao atraso pelo público. A única banda brasileira que conseguiu escapar inteiramente do carimbo fatal do World Music no mercado norte-europeu são os roqueiros pesadões do Sepultura.
O terceiro e provavelmente mais difícil obstáculo que a música brasileira enfrenta na Europa do Norte é o preconceito. Muita gente na Europa ainda confunde a cultura brasileira com a dos demais países sul-americanos. Está, por exemplo, comum a noção de que espanhol é a língua falada no Brasil e que salsa é o gênero de música mais popular do país. Está também comum uma noção extremamente exagerada das diferenças culturais entre o Brasil e a Europa Ocidental. A idéia (obviamente absurda) de muitos norte-europeus parece ser que um povo, como o brasileiro, cuja cultura é tão estranha e diferente em relação à européia, dificilmente pode ser capaz de criar música que diz respeito ao público da Europa Ocidental.
Contudo, como mencionei no início deste texto, a atitude dos norte-europeus em relação à música brasileira já está mudando. A imagem do Brasil, como país, está se tornando cada vez mais positiva na Europa do Norte, e à luz dessa tendência, a música brasileira também começa a se destacar, especialmente na Inglaterra, mas também nos outros países norte-europeus. Artistas como Rica Amabis, Andrea Marquee, Banda Black Rio e outros artistas brasileiros da década de 70 já foram sucessos nas pistas de dança de muitos clubes. Alguma publicidade nos jornais e na tevê também foi concedida a artistas como Marisa Monte, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jorge Ben, e uma coletânea dos Mutantes recebeu ótimas críticas -tanto que a banda agora conta com uma pequena mas muito entusiástica base de fãs norte-europeus. E, é claro, os discos de Tom Jobim, Baden Powell, e João, Astrud e Bebel Gilberto seguem vendendo. Mesmo que o progresso esteja lento, parece que a música brasileira, apesar dos vários preconceitos e do desinteresse total das gravadoras internacionais, está aos poucos conquistando os corações dos amantes de música também na Europa do Norte. Tal conquista com certeza seria proveitosa, tanto para os norte-europeus quanto para a música brasileira.