A <i>Ópera do Malandro</i> reencontra o Rio de Janeiro
Clássico musical de Chico Buarque reestréia na capital fluminense, 25 anos depois de seu lançamento
Marco Antonio Barbosa
16/08/2003
O ano era 1978. Num Brasil que aos poucos se reencontrava com a liberdade de
expressão, às vésperas da anistia e em clima de abertura, Chico Buarque retornava mais
uma vez ao cenário teatral - alguns anos após ter visto sua peça Calabar ser
censurada e perseguida pelo governo militar. Após a frustração do musical anterior,
Chico triunfou de modo acachapante com sua nova produção, Ópera do
Malandro; um marco do teatro musical brasileiro, que gerou vários sucessos
radiofônicos, virou filme e consolidou o nome do compositor como legítimo inovador da
arte cênica nacional. Duas décadas e meia depois daquela estréia, a Ópera volta
aos palcos. O Rio de Janeiro é a cidade a abrigar a malandragem de Chico mais uma vez;
o espetáculo, em versão superproduzida com direção de Charles Möeller, estreou ontem
no Teatro Carlos Gomes. Uma vez mais, os dramas e alegrias de uma galeria inesquecível
de personagens que povoavam a Lapa - bairro boêmio do Rio - nos anos 40,
acompanhados por uma trilha sonora ainda mais inesquecível, estão de volta, numa
temporada que vai até dezembro.
Mais do que por sua trama ou suas interpretações, a Ópera do Malandro original entrou para a história por suas canções. Ilustrando seu painel dos áureos tempos da malandragem, Chico Buarque concebeu números como Folhetim, Pedaço de Mim, Teresinha, O Meu Amor, Homenagem ao Malandro e Geni e o Zepelim. Essas e outras acabaram por extrapolar a repercussão da peça, sendo regravadas por nomes como Gal Costa, Zizi Possi, Moreira da Silva e João Nogueira, ao longo dos anos. "Nenhum musical, nem da Broadway, tem tantos sucessos como este", afirmou o diretor Charles Möeller. Além das canções da montagem original, a nova versão da peça incluiu também algumas outras (como Hino da Repressão ou Palavra de Mulher) que foram feitas posteriomente para o filme homônimo (de 1985).
Assim como na época de sua estréia o score composto por Chico mereceu uma versão em LP, a remontagem 2003 de Ópera do Malandro também vai virar CD. O elenco de 20 atores e 12 músicos tem sua direção musical coordenada por André Góes e Liliane Secco (que também assina os arranjos). Alexandre Schumacher, Soraya Ravenle, Alessandra Maestrini, Claudio Tovar, Lucinha Lins e Mauro Mendonça, os protagonistas da peça e que soltam a voz nas canções mais famosas, serão produzidos em disco por Vinicius França (colaborador costumeiro de Chico). O CD, a ser lançado pela Biscoito Fino até setembro, será gravado ao vivo no palco, sem a presença do público. O disco original trazia as vozes dos já citados João Nogueira, Moreira da Silva, Zizi Possi e Gal Costa, além de Francis Hime, Marlene e os grupos A Cor do Som, As Frenéticas e MPB-4. É bom lembrar também que a estréia da peça ajudou a projetar em 1978 uma então iniciante, vinda do Nordeste: Elba Ramalho.
Inspirado em obras de John Gay (A Ópera dos Mendigos, de 1728) e Bertold Brecht (A Ópera dos Três Vinténs, de 1928), Chico Buarque concebeu sua peça como um comentário à situação política e social que o Brasil atravessava no fim dos anos 70. A Ópera de Chico conta a história do malandro Max Overseas (vivido agora por Alexandre Schumacher), rei da boêmia na Lapa dos anos 40. Dividido entre os amores de duas mulheres - Terezinha (Soraya Ravenle) e Lúcia (Alessandra Maestrini) - e vivendo à margem da lei, Max tem como antagonista o velhaco Duran (Mauro Mendonça), dono dos prostíbulos do bairro. Nesse ambiente sórdido e desesperançado, um complexo painel de promiscuidades - entre criminosos e a lei, entre "gente de bem" e degradados da sociedade - se desenha.
A nova montagem da peça esbanja recursos e luxo. Uma orquestra completa acompanha os atores ao longo do musical, que é encenado sobre um triplo palco giratório (que conta ainda com um cenário de três andares). Setenta e cinco figurinos originais foram confeccionados para os personagens. Tudo isso, por incrível que pareça, foi arregimentado sem a cooperação de Chico Buarque. O autor da peça encontra-se em estágio de finalização de seu terceiro romance e, apesar de dado seu OK para a nova versão, não exigiu controle sobre o produto final. E nem mesmo pretende comparecer para ver o resultado no palco - pelo menos tão cedo.
Mais do que por sua trama ou suas interpretações, a Ópera do Malandro original entrou para a história por suas canções. Ilustrando seu painel dos áureos tempos da malandragem, Chico Buarque concebeu números como Folhetim, Pedaço de Mim, Teresinha, O Meu Amor, Homenagem ao Malandro e Geni e o Zepelim. Essas e outras acabaram por extrapolar a repercussão da peça, sendo regravadas por nomes como Gal Costa, Zizi Possi, Moreira da Silva e João Nogueira, ao longo dos anos. "Nenhum musical, nem da Broadway, tem tantos sucessos como este", afirmou o diretor Charles Möeller. Além das canções da montagem original, a nova versão da peça incluiu também algumas outras (como Hino da Repressão ou Palavra de Mulher) que foram feitas posteriomente para o filme homônimo (de 1985).
Assim como na época de sua estréia o score composto por Chico mereceu uma versão em LP, a remontagem 2003 de Ópera do Malandro também vai virar CD. O elenco de 20 atores e 12 músicos tem sua direção musical coordenada por André Góes e Liliane Secco (que também assina os arranjos). Alexandre Schumacher, Soraya Ravenle, Alessandra Maestrini, Claudio Tovar, Lucinha Lins e Mauro Mendonça, os protagonistas da peça e que soltam a voz nas canções mais famosas, serão produzidos em disco por Vinicius França (colaborador costumeiro de Chico). O CD, a ser lançado pela Biscoito Fino até setembro, será gravado ao vivo no palco, sem a presença do público. O disco original trazia as vozes dos já citados João Nogueira, Moreira da Silva, Zizi Possi e Gal Costa, além de Francis Hime, Marlene e os grupos A Cor do Som, As Frenéticas e MPB-4. É bom lembrar também que a estréia da peça ajudou a projetar em 1978 uma então iniciante, vinda do Nordeste: Elba Ramalho.
Inspirado em obras de John Gay (A Ópera dos Mendigos, de 1728) e Bertold Brecht (A Ópera dos Três Vinténs, de 1928), Chico Buarque concebeu sua peça como um comentário à situação política e social que o Brasil atravessava no fim dos anos 70. A Ópera de Chico conta a história do malandro Max Overseas (vivido agora por Alexandre Schumacher), rei da boêmia na Lapa dos anos 40. Dividido entre os amores de duas mulheres - Terezinha (Soraya Ravenle) e Lúcia (Alessandra Maestrini) - e vivendo à margem da lei, Max tem como antagonista o velhaco Duran (Mauro Mendonça), dono dos prostíbulos do bairro. Nesse ambiente sórdido e desesperançado, um complexo painel de promiscuidades - entre criminosos e a lei, entre "gente de bem" e degradados da sociedade - se desenha.
A nova montagem da peça esbanja recursos e luxo. Uma orquestra completa acompanha os atores ao longo do musical, que é encenado sobre um triplo palco giratório (que conta ainda com um cenário de três andares). Setenta e cinco figurinos originais foram confeccionados para os personagens. Tudo isso, por incrível que pareça, foi arregimentado sem a cooperação de Chico Buarque. O autor da peça encontra-se em estágio de finalização de seu terceiro romance e, apesar de dado seu OK para a nova versão, não exigiu controle sobre o produto final. E nem mesmo pretende comparecer para ver o resultado no palco - pelo menos tão cedo.