A chama imortal de Vinicius

Nos 20 anos de sua morte, o poeta que cantou o amor vira marca comercial e terá livro de correspondência e home page oficial

Nana Vaz de Castro
07/07/2000
Já se pode dizer que uma geração inteira nasceu e cresceu depois da morte de Vinicius de Moraes, em 9 de julho de 1980. Uma geração que não teve a oportunidade de encontrar o poeta caminhando pela rua Montenegro, em Ipanema – atual rua Vinicius de Moraes – ou que nunca o viu tomando um uisquinho no bar Veloso – atual bar Garota de Ipanema. Agora que se completam 20 anos que Vinicius se foi, outras homenagens como essas estão sendo produzidas, para que a lírica viniciana seja cada vez mais acessível a essa geração.

A música, com certeza, não passou despercebida aos menores de 20 anos. Mesmo os fãs do punk-rock ou entusiastas do pagode-axé conhecem e talvez até saibam de cor as letras de Eu Sei que Vou Te Amar, Garota de Ipanema, Chega de Saudade, Se Todos Fossem Iguais a Você, para citar apenas algumas parcerias de Vinicius e Tom Jobim.

Agora a presença poética desse carioca que completaria 87 anos em outubro vai ficar ainda mais intensa, com o licenciamento da marca Vinicius de Moraes pela empresa MBA (Marcas Brasileiras Administradas). Com aval da VM Produções – empresa formada pelos herdeiros de Vinicius para gerenciar o espólio –, alguns produtos surgirão no mercado com o nome do "poeta, diplomata e capitão-do-mato", como o próprio se definia.

Mas não é preciso sentir arrepios imaginando rolos de papel higiênico poético ou um escritório de advocacia fazendo propaganda com o Soneto da Separação. Luciana de Moraes, filha de Vinicius e diretora da VM Produções, garante que cada caso de licenciamento será analisado e autorizado individualmente. Todos os produtos que levarem a marca Vinicius terão necessariamente que envolver "o universo da paixão, do amor, da poesia, enfim o universo feminino", diz Luciana. E nem poderia ser diferente. Mulherengo incorrigível, casado nove vezes (com Tati, Regina, Lila, Lúcia, Nelita, Cristina, Gesse, Marta e Gilda), apaixonado outras tantas, pai de cinco filhos (Susana, Pedro, Luciana, Georgiana e Maria), Vinicius foi verdadeiramente o "homem que amava as mulheres". Por enquanto, os projetos de licenciamento mais adiantados envolvem bombons e cadernos escolares.

Inéditos do fundo do baú
Além disso, um novo baú de escritos inéditos foi encontrado recentemente, com alguns documentos e muitas cartas escritas e recebidas por Vinicius. Toda a correspondência está sendo reunida para a publicação de um livro, organizado pelo escritor Ruy Castro, autor de, entre outros livros, Chega de Saudade – A História e as Histórias da Bossa Nova. A previsão é que o volume esteja pronto em meados do ano que vem.

Na mesma época, especula Luciana, estará pronta a home page oficial de Vinicius de Moraes. O contrato está prestes a ser assinado com a Refazenda, produtora dirigida por Flora Gil, esposa de Gilberto Gil, e que desenvolveu os sites de Caetano Veloso, Gal Costa, Elba Ramalho, Cazuza, Zélia Duncan, Zé Ramalho e, naturalmente, Gil. Com o site oficial, a família espera acabar com o "mal-entendido" que acabou gerando entre os internautas, quando, baseada na lei dos Direitos Autorais, impediu que algumas home pages de homenagem a Vinicius se mantivessem no ar, inclusive sites feitos por estudantes, sem fins comerciais. A atitude foi vista como antipática pelos fãs que procuravam uma forma de divulgar a obra do poeta, mas os herdeiros não voltaram atrás. "Esperamos que a home page oficial sirva de resposta a tudo isso", diz Luciana de Moraes.

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