A consagração dos selos pequenos

Jam Music, Lua Discos, Panela Music, Net Records, Acari e muitas outras gravadoras de pequeno porte invadem mercado brasileiro em diversos gêneros e com formas alternativas de distribuição

Rodrigo Faour
28/12/2000
O ano 2000 foi de afirmação total para os selos fonográficos de pequeno porte. Jam Music, Lua Discos, Xiclete, InterCD, Acari, YBrazil?, Blues Time Records, Paulus, Instituto Suba, Órbita Music, Thanx God Records, Palavra Cantada, Regata e Net Records foram alguns dos que chegaram ao mercado este ano. Isto sem contar alguns outros que se consolidaram em 2000, como Dubas, Sesc-SP, Rockit!, Trama, Nikita, Atração e CPC-Umes. CliqueMusic foi verificar os trunfos de alguns desses selos e descobrir quais são as principais dificuldades que eles enfrentam para seguir adiante.

A Jam Music, gravadora da cantora Jane Duboc e do empresário Paulo Amorim (dono da casa de shows paulista Tom Brasil) lançou em menos de um ano14 CDs de artistas consagrados como Ângela Rô Rô, Tunai, Célia & Zé Luiz Mazziotti, Jane Duboc & Sebastião Tapajós e de novatos, como Bena Lobo, Bukassa, o grupo Curupira, entre outros. E promete finalizar mais três até o começo do ano que vem: o CD de estréia da filha de Djavan, Flávia Virgínia, o da veterana Alaíde Costa (só com músicas de carnaval, em ritmo ralentado) e um tributo a João Nogueira, com artistas que vão de Beth Carvalho a Emílio Santiago e Zeca Pagodinho. Jane diz que não há segredos para explicar tamanho sucesso.

"Todo mundo que está na Jam é do ramo, nasceu com a música no sangue. Com nossa experiência musical de 300 anos (risos), sabemos o que é verdadeiro. Em menos de um ano, viramos uma família muito grande, diferente do que já vivenciei por aí em outras gravadoras. Em termos musicais, acertamos em cheio na escolha de arranjadores, músicos, capistas...", orgulha-se a cantora. Ela diz, no entanto, que há apenas dois pontos mais frágeis. "Queremos montar uma equipe forte de divulgação, achamos que todos os nossos artistas têm capacidade de fazer belíssimas apresentações em TV, por exemplo. Também pretendemos melhorar nossa distribuição. Como a Jam tem muitos títulos de gente desconhecida do grande público, como Bukassa e o Jay Vaquer, enfrentamos dificuldades na distribuição nacional", analisa.

Preocupado com o valor artístico de seus títulos, o compositor Thomas Roth abriu a Lua Discos e diz só ter motivos para estar feliz com sua empresa. Depois de lançar os CDs dos cantores Rebeca Matta e Cláudio Nucci, a gravadora promete títulos bastante sugestivos para o ano que vem, que vão de bambas veteranos como o sambista Casquinha (com participação da Velha Guarda da Portela e Aldir Blanc) e de Guilherme de Brito (com participações de Cássia Eller e Luiz Melodia, com direito a cinco sambas inéditos em parceria com Nelson Cavaquinho), passando por Jards Macalé (cantando Moreira da Silva, com participação de Marcelo D2 e possivelmente Zeca Baleiro), Simone Guimarães, Filó Machado e Lupa Mabuze. "O que privilegiamos é o respeito integral ao trabalho do artista, aceitando sua opção, permitindo que ele grave o que de fato deseja. Por isso frisamos o slogan da gravadora: Lua Discos - a Alma do Artista. Estamos buscando a verdade", defende Roth.

O produtor se preocupa até em não tirar os artistas de seus estados natais para não prejudicar o processo de criação. "Apesar de termos estúdios próprios, tentamos viabilizar dentro do possível o projeto dos artistas. Rebeca gravou na Bahia como ela quis e com quem ela quis. Não ficaram em São Paulo, isolados e tristes num hotel", diz. Assim como a Jam, a Lua Discos tem alguns problemas com a distribuição, atualmente a cargo da Azul Music. "Ela é uma distribuidora pequena e o mercado de distribuição no Brasil não é fácil. Há uma inadimplência, como há em quase tudo no país. Mesmo assim, estamos felizes, porém lutando com muita dificuldade. Cada disco vendido é uma alegria."

Saídas possíveis para a distribuição
Por outro lado, a Net Records e a Panela Music estão saindo vitoriosas na guerra da distribuição, criando formas alternativas de fazer seus CDs chegarem até o consumidor. Leonardo Bourbon, da Net, conta que o embrião de sua empresa foi o CD independente A Vida É Doce, de Lobão, que chegou às 100 mil cópias vendidas com distribuição apenas em bancas de jornal. A partir daí, Leonardo estruturou sua gravadora que já lançou o novo CD da banda paulista Karnak (Estamos Adorando Tokio) e põe na praça nos próximos meses os CDs de Kátia B, Vulgue Tostoi, Autoload (grupo de música eletrônica) e do guitarrista Nando Chagas. Segundo Leonardo, a principal dificuldade dos selos alternativos é empresarial. Ele crê que seus colegas ficam de olho nas bases artísticas da gravadora e esquecem da importância de ter seus CDs bem distribuídos no mercado.

"A saída é ir montando alternativas próprias. A banca de jornal é um meio alternativo de massa. Temos no país mais bancas de jornal que lojas de CDs. São 20 mil no Brasil inteiro. Em contrapartida, a Internet funciona como canal de marketing, como formador de opinião, pois no varejo sua influência ainda é restrita", avalia Leonardo, que já lançou o site da gravadora: www.netrecords.com.br. Ele admite, no entanto, que emplacar um artista ainda sem nome nas bancas é muito mais difícil que um consagrado.

Pierre Aderne, da Panela Music, tenta vencer essa dificuldade correndo para outros meios de venda de discos. Além de ter CDs distribuídos nas bancas e principais livrarias do país, por vezes, encarta-os em jornais. "Neste mês, lancei Oswaldo Montenegro (Escondido no Tempo), encartado na Tribuna do Norte. Em uma semana, vendi 10 mil cópias, algo que é muita coisa numa cidade como Natal", anima-se o produtor que tem contrato com 440 jornais do interior do Brasil e outros 27 de capitais para comercializar os discos de sua gravadora - a experiência, ele trouxe da época em que vendeu milhões de discos de Cid Moreira lendo salmos, encartados em jornais populares.

A Panela Music já conseguiu até seu primeiro disco de ouro pela venda do CD de Oswaldo Montenegro e vendeu cerca de 50 mil cópias do novo disco da Blitz. Seus planos são ambiciosos. A gravadora pretende lançar no começo do próximo ano o novo disco de Leo Jaime, o solo de Pierre Aderne e o coletivo A Festa da Música Brasileira, com 16 artistas do festival de novos talentos que a gravadora produziu no Garden Hall (RJ), vencido pelo grupo Baia e os Rock Boys. "O Baia ganhou como prêmio 100 horas de gravação no AR, o maior estúdio da América Latina, além receber a patente do próprio tape", explica ele, alertando que sua firma pretende ir além de uma simples gravadora. Ela quer incentivar os novos artistas com prêmios como esse ou com uma simples consultoria.

"Como recebemos cerca de 50 CDs por semana de artistas de todo o Brasil, independentemente de lançá-los, damos conselhos para essa galera, mostrando como é que eles podem viabilizar seus trabalhos", conta Aderne. Em 2001, a Panela pretende incrementar suas parcerias, como a que começou a desenvolver com selos como o Ramax, da Elba Ramalho, que lançou o CD do grupo Fuba de Itaperoá, e promete que o foco da gravadora será maior em novos talentos. A Panela pretende também vender música por download, através de uma homepage que será inaugurada dentro de poucos dias. Os alternativos começam a chegar lá.