A face roqueira do Skank

Banda mineira cansa de fazer reggae e adota nova sonoridade no disco Maquinarama

Tom Cardoso
07/06/2000
O corte de cabelo do vocalista Samuel Rosa, que mais parece uma peruca de Paul McCartney, já anuncia: o Skank vive um romance com o rock dos anos 60. No novo álbum do grupo, Maquinarama (Sony Music), a influência está por todos os lados – do Cadillac rabo-de-peixe colorido presente na capa do CD até os abundantes riffs de guitarras distribuídos ao longo do disco. Os sopros e metais, tão presentes nos álbuns anteriores, foram guardados no armário.

"A gente estava cansado de ser chamado de banda de reggae. É claro que temos influências fortes do ritmo jamaicano, mas ouvimos muito rock na adolescência – começamos a nossa carreira acompanhando um cara que cantava Elvis Presley", afirma o tecladista Henrique Portugal. "Além disso, já estava mais do que na hora de mudar um pouco a nossa sonoridade. Não queremos soar como muitas bandas brasileiras, que vivem se repetindo", diz o músico, sem citar nomes.

Não é de hoje que o grupo mineiro está insatisfeito com a nova safra de bandas do pop nacional. Samuel chegou a afirmar em entrevistas que não suportava mais ouvir dezenas de grupos imitando o Skank. "Chegou uma fase que todo mundo queria fazer aquela mistura de metais com reggae, estava ficando um pouco chato. Mudamos a nossa sonoridade na hora certa, até porque temos outras facetas para mostrar".

Atitude roqueira
Para o tecladista, Maquinarama está longe de ser um álbum de rock. "Esse disco é um grande caldeirão. Tem influência do pessoal do Clube da Esquina, um pouco de Bossa Nova, de Jovem Guarda. Até reggae, que a gente queria dar um tempo, tem alguns disfarçados ao longo do CD. Acho que a nossa postura, esta sim, é roqueira. Tivemos a ousadia de mudar a nossa sonoridade quando ela estava dando certo".

A banda dedicou o disco a Suba (produtor croata morto em 1999), que, junto com Chico Neves e Tom Capone, iria cuidar da produção do CD. "Ele morreu uma semana antes de começar a trabalhar com a gente. Era um cara que tinha uma relação com a música eletrônica muito parecida com a nossa, fez muita falta neste disco", diz Henrique, que também não poupou elogios ao trabalho de Capone e Neves. "O Capone sabe explorar o que as bandas têm de melhor, trabalha muito bem cada instrumento. Já o Chico é um cara mais despojado, tem um estúdio pequeno no Rio de Janeiro e não tem aquela frescura da maioria dos produtores."

Foi por causa de Chico Neves que o banda acabou mixando o CD em Woodstock. "Muita gente achou que a gente foi para lá por causa desse nosso flerte com a música dos anos 60. Na verdade foi uma grande coincidência. O Chico tinha uma amiga que trabalhava com masterização nos EUA e quando vimos estávamos todos cercado de um monte de velhinhos hippies, todos eles muito doidos. Mas fomos comportados, não nos entupimos de ácido", diz, brincando, o tecladista.