A fórmula do sucesso da Indie Records

Pequena e nova no mercado, gravadora conseguiu transformar nomes como Jorge Aragão, Vinny, Luiz Melodia, Jerry Adriani, Tribo de Jah e LS Jack em grandes vendedores de discos

Rodrigo Faour
19/07/2000
Em pouco mais de três anos de existência, a Indie Records conseguiu alguns feitos inimagináveis para um selo do seu porte. Primeiro foi o estouro do estreante Vinny na área do pop/rock. Depois, o sambista Jorge Aragão – jamais trabalhado em suas outras gravadoras – teve boas vendagens do CD Sambista a Bordo e este ano chegou às 500 mil cópias vendidas de seu primeiro disco ao vivo. O jovemguardista Jerry Adriani, por sua vez, voltou às paradas depois de 30 anos com Forza Sempre, dedicado a seu clone vocal, Renato Russo, vendendo mais de 200 mil cópias. Até Luiz Melodia enterrou de uma vez sua fama de artista maldito, ganhando seu primeiro disco de ouro (mais de 100 mil cópias vendidas), um Acústico. Diante de tantos êxitos, fica a pergunta: qual é a fórmula do sucesso?

"Acho que não existe fórmula, o que existe é trabalhar muito e ter muita sorte. Se existisse fórmula, todo mundo iria atrás dela", acredita Liber Gadelha, diretor-geral da Indie, com 20 anos de carreira como produtor musical. Ele conta que o nível de acertos da gravadora vem sendo bem maior que o de erros, já que, de quatro lançamentos, três eles têm conseguido emplacar. "Mas a cachaça de quem trabalha nesse mercado é a imprevisibilidade. Quem poderia imaginar que hoje uma das músicas mais executadas é a Ave Maria, de Gounod, instrumental, tocada só por cavaquinho pelo Jorge Aragão?", indaga. Nem sempre, porém, Liber teve o feeling certo: teve o material da banda Natiruts (ex-Nativus) nas mãos e deixou passar. "Isso acontece...", diz. Mas de uma forma geral seu faro tem sido certeiro.

Um dos maiores vendedores de discos do Brasil hoje e maior fenômeno comercial da Indie, Jorge Aragão foi alvo de um longo trabalho – uma sementinha regada dia após dia. Alexandre Martins, diretor de produção e marketing da Indie, explica que Jorge foi favorecido pela onda de samba de raiz, desencadeada pelo sucesso de Martinho da Vila e de Zeca Pagodinho, mas ressalta que a gravadora suou para trabalhar o disco e vencer o bloqueio das emissoras de rádio e de TV. "Nenhuma das músicas estouradas pelo Jorge tem menos de 15 anos – as pessoas já as conheciam na voz de outros cantores. Com insistência, chegamos às rádios e à TV. Estávamos há três anos para fazer um programa de repercussão nacional com o Jorge. O negócio é arregaçar as mangas e trabalhar", ensina.

Alexandre conta que a gravadora abriu justamente porque seu parceiro, Liber Gadelha, tentava emplacar trabalhos de vários artistas nas multinacionais, que acabavam não se interessando por seus projetos. Foi quando decidiu abrir seu próprio selo, investindo em bons profissionais e boas parcerias – as de mídia e também as de distribuição. "As parcerias foram dando certo e todo mundo ganhou dinheiro. Isso fez com que a gente acontecesse mais rápido", explica. Mas o quesito distribuição não foi muito fácil de acertar. Eles passaram pela RGE, Eldorado, Sony até se acertarem com a Universal. Graças a um acordo de porcentagem, a Universal não demora a pôr os discos da Indie nas lojas, como acontecia com as outras gravadoras.

Artistas encostados
Outro ponto que levou ao sucesso, segundo Alexandre, foi investir nos artistas "encostados" pela indústria, caso de Jerry Adriani, Luiz Melodia, Wando e do próprio Jorge Aragão. "É preciso ter muita persistência e muita paciência para trabalhar esses artistas na mídia. Coisa que, às vezes, nem o próprio artista tem. Nós não queremos ser uma gravadora independente, na contramão. Aquele tipo que não sabe divulgar, que não consegue criar um cast e fica reclamando da falta de espaço no mercado", conta Liber. No caso dos artistas novos, o trabalho também não é pouco para emplacá-los. "O Vinny, por exemplo, foram nove meses de trabalho na noite, em casas noturnas, até que ele chegou às rádios", conta. Só depois de quase um ano de lançada a faixa Heloísa Mexe a Cadeira tomou conta do país. Em compensação, quando a gravadora investiu no grupo pop LS Jack, a resistência já foi menor.

Uma das histórias mais curiosas da Indie foi a do CD de Jerry Adriani. Alexandre diz que para convencer as rádios de linha pop a tocar seu disco com músicas do repertório do Legião Urbana em italiano, fez um verdadeiro tour de force. "Chegamos numa rádio, colocamos o disco para tocar e perguntamos para todos quem é que estava cantando. Claro que as pessoas pensaram que era o Renato Russo. Eles acharam legal e os convencemos de que, se fizessem para o público em geral a mesma promoção que fizemos para eles, também daria certo. Acabamos chegando à Rede Transamérica e lançamos o disco no dia do aniversário do Renato, com um show ao vivo de Jerry que teve a participação de Cássia Eller, do Barão Vermelho e de outros artistas pop", conta Alexandre, feliz com as vendas de Forza Sempre.

Outra história interessante é a do grupo de reggae Tribo de Jah, formado apenas por cantores cegos. "Eu chegava nas majors tentando vender o trabalho do grupo e eles me perguntavam: ‘Quantos cachorrinhos vamos ter que contratar para guiá-los nos shows e nos estúdios?’", entrega Liber, festejando a marca de 80 mil cópias do penúltimo disco do grupo e a de 100 mil do quarto e último.

A concorrência no mercado fonográfico é grande. E muitas gravadoras já estão de olho nos artistas da Indie. A Abril Music já tentou levar a Tribo de Jah, a EMI tentou Jorge Aragão e a Sony, o Vinny. Os artistas não aceitaram. "Nós não estamos fazendo uma gravadora para o artista estourar e vir uma outra e os levar. Nosso objetivo é montar um cast e ter o nosso departamento comercial", explicita Alexandre.