A gandaia brasileira em Montreux

Martinho, Dona Ivone Lara e Paralamas dão exibição de classe na noite de estréia do Brasil no festival

Felipe Tadeu
15/07/2000
MONTREUX - Quando o sambista Martinho da Vila adentrou o palco do Auditório Stravinski, acompanhado de sua banda de onze músicos, para dar início a participação brasileira no 34° Festival de Montreux, ele não precisou de mais do que três minutos para colocar a platéia no bolso. Contando com um repertório que foi de Quem é Do Mar Não Enjoa, até O Pai da Alegria, passando por Pro Amor Render, Segure Tudo e Disritmia, dentre outras, o ex-sargento de milícias já chegou ciente do que estava por vir: suíços, brasileiros e amantes da boa música em geral, iriam se esbaldar com o que o Rio de Janeiro sempre teve de melhor a oferecer. O samba.

Mesmo tendo que trajar um pulôver (que, como estandarte, pronunciava sua origem boêmia), em pleno verão europeu, Martinho da Vila era só descontração, diante da platéia que lotou a principal sala do evento. “Tô contentão de estar aqui pela segunda vez, tá muito maneiro”, entregou ele, carioquíssimo, logo nos primeiros momentos da noite. Cerca de dez anos depois de sua primeira vinda a Montreux, Martinho foi em todo o decorrer do show, o zen-budismo em pessoa. Ao final, deixou o palco feliz. “Da outra vez, nós tivemos um público mais agitado. O Brasil estava passando por uma fase política conturbada e os brasileiros que aqui estavam agitaram mais. Hoje não, fiquei impressionado com a atenção com que a platéia ouvia os meus sambas”, afirmou Martinho. E não faltou gente que dissesse no pé, em perfeita sintonia com o que brotava no palco. Como na hora em que o conterrâneo de Noel convocou a multidão para acompanhá-lo em Kizomba, Festa da Raça: “Vamos fazer de conta que tá todo mundo no desfile”. Os brasileiros não se fizeram de rogados, e os europeus foram atrás, no auge de uma apresentação irretocável.

Não bastassem os belos sambas de que dispõe para encantar platéias pelo mundo afora – neste ano, Martinho já passou pelos festivais de Lugano e pelo Famalicão, na cidade do Porto, apresentando-se no domingo, dia 16, em Tübingen, Alemanha -, ele ainda trouxe para o festival suíço Dona Ivone Lara, como convidada especial. “Foi graças a Martinho, André Midani e Carlos Sion que vim parar aqui”, revelou entusiasmada Dona Ivone Lara. A nobre integrante da Império Serrano subiu ao palco para cantar Acreditar, Sonho Meu, Alguém Me Avisou, Tiê, Tiê – sua primeira composição, feita em parceria com o primo Antônio dos Santos, quando mal completara 12 anos -, e o samba que diz que “se o caminho e meu, deixa eu caminhar”.

Depois vieram os Paralamas. Eletrizantes, Herbert, Bi Ribeiro, Barone, João Fera & Cia. desfilaram aquela penca de hits que fizeram história no dial brasileiro, quase no mesmo formato do Acústico MTV, não fosse a ausência de Dado Villa-Lobos, da Legião Urbana. Apesar de iniciarem o show sem o fogo que o público esperava deles, os Paralamas conseguiram se desvencilhar do mero profissionalismo para soltar petardos como Que País é Esse, Sossego, Vamo Batê Lata, e Bora-Bora, sem que Herbert Vianna se esquecesse de lembrar aos espectadores estrangeiros – no mais fluente inglês -, que a banda vinha da terra da Bossa Nova. Era a deixa para Nebulosa do Amor. Foi nesse clima que todos deixaram o auditório Stravinski para uma cervejinha nos bares à beira do Lago Leman, no sábado do Festival de Montreux, antes de Femi Kuti dar prosseguimento à The Brazil/Africa Coffee Night. Todos apaixonados pela música do Brasil.

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   Banda Eva

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