A levada afro-tribal-brasileira do Ha-Ono-Beko

Banda criada no caldeirão multicultural do cerrado corre o país apresentando sua música de difícil classificação, feita com instrumentos convencionais e outros por ela inventados

Silvio Essinger
05/01/2001
Os jovens brasilienses do Ha-Ono-Beko desde cedo conviveram com as mais diferentes culturas - filhos do cerrado, cresceram imersos na tradição africana e indígena, ao mesmo tempo em que desfrutavam de todas as novidades anglo-americanas. Desse caldeirão de estímulos culturais, surgiu o trabalho que apresentam em seu primeiro disco, o independente Siga o Sol e Vá em Frenteamostras de 30s- o título é o significado da expressão africana que dá nome à banda. Com um dedo de influência do funk e muito de maracatu, música indígena e ritmos africanos, o Ha-Ono-Beko se orienta por uma "levada afro-tribal-brasileira", onde se encontram as influências de Hermeto Pascoal, Chico Science, Milton Nascimento e Luiz Gonzaga. "O grande lance é o experimentalismo", entrega o baixista Chico Maloca.

Formada há cinco anos, a banda tem ainda como integrantes Junai (vocal), Dred (vocal e gaitas), Cacai (guitarra), Flávio Leão (bateria), Radi (percussão) e Caju (percussão e flauta). Eles fazem questão de se apresentar no palco caracterizados com os trajes indígenas e argila cobrindo o corpo. "O show do Ha-Ono-Beko é como se fosse um ritual", diz Dred, que trabalha na Funai como educador. No melhor estilo da banda mineira Uakti, Junai cria instrumentos a partir de materiais retirados diretamente da natureza, ou que iriam ser jogados fora, como cabaças, madeira, arame, latas, canos de PVC, bambu e garrafas plásticas. São peças de percussão e de sopro como Jupã, Cordilata, Manguetom, Canete, Zubiri, Copildo e Kwaco - algumas delas têm até sistema de captação, assim como uma guitarra elétrica.

O Ha-Ono-Beko passou três anos juntando dinheiro até conseguir gravar seu disco - a primeira tiragem foi de mil cópias e custou 6 mil reais. Ele foi lançado com uma turnê que começou no verão do ano passado em Fortaleza e passou por Natal, João Pessoa, Recife, Olinda e Itacaré (na Bahia), voltando em seguida para Brasília. Em agosto, os músicos estiveram no Rio de Janeiro mostrando o seu show, que sempre é acompanhado de workshops de construção dos seus instrumentos. Depois de muito correr o país, graças a alguns apoios financeiros de secretarias de Cultura, eles já estão na terceira tiragem do disco, com 2600 cópias vendidas. Todo o dinheiro dos CDs é reinvestido: com ele, a banda planeja gravar um videoclipe e montar uma sala de ensaios em Brasília.

Com um som difícil de se categorizar, dividido entre músicas em que o elemento indígena está mais forte, como 500 Anos de Quê? e Batuque de Tribo, e outras em que o funk é mais evidente, com base de baixo-guitarra-percussão-bateria, como Menininho do Pé Pequeno e Ha-Ono-Beko Pelo Povo, o Ha-Ono-Beko vem conquistando um público para lá de eclético. "A gente toca em rave, forró, festa de reggae, de rock...", enumera Dred. Segundo o baixista Chico, a música eletrônica até traz alguma inspiração para a banda. "Mas é para fazer o nosso som", assegura. No próximo disco, eles esperam dominar melhor a tecnologia de estúdio e sonham em gravar no meio dos índios, como o Sepultura no álbum Roots. Planos para divulgar-se no exterior são cada vez mais concretos. "Os gringos são os que mais compram o nosso CD, os que mais vêm conversar com a gente depois dos shows", diz Chico. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre o Ha-Ono-Beko, é só visitar seu site: www.inbrasilia.com.br/haonobeko.htm

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