A morte de Waly Salomão, poeta da Tropicália
O baiano, co-autor de Vapor Barato, tinha 59 anos e tratava-se de um câncer no Rio de Janeiro
Marco Antonio Barbosa
06/05/2003
"(...) Estou tão cansado / Mas não pra dizer / Que estou indo embora". Impossível não se
recordar dos versos do clássico Vapor Barato ao se tomar conhecimento da
morte, na manhã de ontem (dia 5), de Waly Salomão, poeta, letrista, ator e Secretário
Nacional do Livro e da Leitura. Baiano, 58 anos, Salomão estava internado há 12 dias na
Clínica São Vicente (RJ), tratando-se de um câncer no intestino. A causa mortis
oficial foi a falência múltipla de órgãos, depois que a doença causou metástase para o
fígado. Depois do velório, ocorrido na tarde de ontem, no Cemitério São João Baptista,
também no Rio de Janeiro, o corpo de Waly será cremado na manhã de hoje (dia 6). À
parte sua intensa atuação em vários meios de expressão artística ao longo de mais de
três décadas, Waly também foi peça-chave - ainda que não uma figura de proa - no
movimento tropicalista, e assinou versos em parceria com compositores como Caetano
Veloso, Antônio Cicero, Lulu Santos, Jards Macalé e Adriana Calcanhoto.
Verborrágico, por vezes polêmico e até contraditório, Waly por mais de uma vez negou fazer parte de qualquer movimento - até mesmo da Tropicália, responsável por sua projeção inicial na mídia. Baiano (de Jequié, nascido em 3 de setembro de 1944) como o núcleo dos tropicalistas, sempre foi um homem de letras, escrevendo sob influência da geração concretista de Décio Pignatari e dos irmãos Campos. A conexão com a turma de Gil, Gal, Caetano e Bethânia se deu através de Hélio Oiticica, cuja instalação Tropicália inspirou Caetano a compor a canção de título homônimo. Amigo e biógrafo de Oiticica (é autor de Qual É o Parangolé, sobre a vida do artista plástico), Waly aproximou-se dos tropicalistas e logo estava tendo poemas seus musicados pela turma.
Sua atuação junto aos tropicalistas foi sendo construída em dupla com sua carreira como escritor. Em 1971 assumiu posto-chave na trajetória de Gal Costa, dirigindo o clássico show Fa-Tal, que tinha como pontos altos duas de suas parcerias com Jards Macalé (Vapor Barato e Mal Secreto), além de Luz do Sol (composta com Carlos Pinto). O show virou disco ao vivo e trilha sonora oficial do hippieismo pós-tropicalista. À essa altura, Waly já tinha uma recheada lista de canções compostas com Caetano, Torquato Neto e outros. No mesmo ano de 71, lançou seu primeiro livro de poesias, Me Segura que eu Vou Dar um Troço.
Nunca assumindo posição clara em relação à sua influência na Tropicália ("Não me sinto atrelado a qualquer movimento, como se fosse um figurino de época", disse ele certa vez), Waly Salomão atravessou os anos 70 fornecendo canções para os remanescentes da turma baiana. Os Doces Bárbaros (que reunia Caetano, Gil, Gal e Bethânia) gravaram sua Tarasca Guidon; solo, Bethânia transformou várias de suas parcerias com Caetano em sucessos (A Voz de uma Pessoa Vitoriosa, Mel, Talismã). A inquietação artística o levou a buscar desafios em pólos opostos. Também pode ser creditada à Salomão a revelação de Luiz Melodia - foi por sua sugestão que Gal lançou Pérola Negra, primeiro sucesso de Melodia como autor. Nos anos 80, podia tanto trabalhar com Lulu Santos (é deles Assaltaram a Gramática, gravada pelos Paralamas do Sucesso) quanto com Itamar Assumpção (Zé Pelintra), ou então escrever todo um disco, em parceria com Antonio Cícero, para João Bosco gravar (Zona de Fronteira ).
Fechando um ciclo geracional, Salomão aproximou-se mais recentemente das vozes femininas dos anos 90. Trabalhou com Cássia Eller no show e disco Veneno Antimonotonia, como produtor. Adriana Calcanhoto musicou dois de seus poemas (Pista de Dança e A Fábrica do Poema). Desde janeiro deste ano, tinha nas mãos um novo desafio: a pedido do eterno amigo Gilberto Gil, hoje Ministro da Cultura, aceitou o cargo de Secretário Nacional do Livro e Leitura. Waly queria popularizar e baratear o hábito de leitura do brasileiro. Casado, pai de dois filhos, Salomão preparava-se para lançar em breve mais um volume de poesias.
Verborrágico, por vezes polêmico e até contraditório, Waly por mais de uma vez negou fazer parte de qualquer movimento - até mesmo da Tropicália, responsável por sua projeção inicial na mídia. Baiano (de Jequié, nascido em 3 de setembro de 1944) como o núcleo dos tropicalistas, sempre foi um homem de letras, escrevendo sob influência da geração concretista de Décio Pignatari e dos irmãos Campos. A conexão com a turma de Gil, Gal, Caetano e Bethânia se deu através de Hélio Oiticica, cuja instalação Tropicália inspirou Caetano a compor a canção de título homônimo. Amigo e biógrafo de Oiticica (é autor de Qual É o Parangolé, sobre a vida do artista plástico), Waly aproximou-se dos tropicalistas e logo estava tendo poemas seus musicados pela turma.
Sua atuação junto aos tropicalistas foi sendo construída em dupla com sua carreira como escritor. Em 1971 assumiu posto-chave na trajetória de Gal Costa, dirigindo o clássico show Fa-Tal, que tinha como pontos altos duas de suas parcerias com Jards Macalé (Vapor Barato e Mal Secreto), além de Luz do Sol (composta com Carlos Pinto). O show virou disco ao vivo e trilha sonora oficial do hippieismo pós-tropicalista. À essa altura, Waly já tinha uma recheada lista de canções compostas com Caetano, Torquato Neto e outros. No mesmo ano de 71, lançou seu primeiro livro de poesias, Me Segura que eu Vou Dar um Troço.
Nunca assumindo posição clara em relação à sua influência na Tropicália ("Não me sinto atrelado a qualquer movimento, como se fosse um figurino de época", disse ele certa vez), Waly Salomão atravessou os anos 70 fornecendo canções para os remanescentes da turma baiana. Os Doces Bárbaros (que reunia Caetano, Gil, Gal e Bethânia) gravaram sua Tarasca Guidon; solo, Bethânia transformou várias de suas parcerias com Caetano em sucessos (A Voz de uma Pessoa Vitoriosa, Mel, Talismã). A inquietação artística o levou a buscar desafios em pólos opostos. Também pode ser creditada à Salomão a revelação de Luiz Melodia - foi por sua sugestão que Gal lançou Pérola Negra, primeiro sucesso de Melodia como autor. Nos anos 80, podia tanto trabalhar com Lulu Santos (é deles Assaltaram a Gramática, gravada pelos Paralamas do Sucesso) quanto com Itamar Assumpção (Zé Pelintra), ou então escrever todo um disco, em parceria com Antonio Cícero, para João Bosco gravar (Zona de Fronteira ).
Fechando um ciclo geracional, Salomão aproximou-se mais recentemente das vozes femininas dos anos 90. Trabalhou com Cássia Eller no show e disco Veneno Antimonotonia, como produtor. Adriana Calcanhoto musicou dois de seus poemas (Pista de Dança e A Fábrica do Poema). Desde janeiro deste ano, tinha nas mãos um novo desafio: a pedido do eterno amigo Gilberto Gil, hoje Ministro da Cultura, aceitou o cargo de Secretário Nacional do Livro e Leitura. Waly queria popularizar e baratear o hábito de leitura do brasileiro. Casado, pai de dois filhos, Salomão preparava-se para lançar em breve mais um volume de poesias.