A MPB que os japoneses não esquecem

Clássicos brasileiros em CD são importados do Japão a preços proibitivos

João Máximo
13/06/2001
O Canto Livre de Nara Leão, todos os singles de Caetano, o primeiro disco de Edu Lobo, o primeiro de Carlos Lyra, um de Gil jamais lançado no Brasil, Sérgio Mendes completo, o Bossa Três dos tempos da gravadora Forma, o Trio Mocotó, o melhor de Walter Wanderley, trilhas sonoras de velhos filmes e novelas brasileiros. Todos esses CDs poderiam estar ao alcance do público brasileiro, mas não estão. Não a preços módicos. Quem quiser comprar algum deles - ou qualquer outro de bossa nova e MPB de tempos atrás - terá de desembolsar R$ 72 por unidade num balcão da Modern Sound, importadora da Barata Ribeiro, em Copacabana.

Explica-se: essas raridades, que poderiam custar não mais que R$ 20 cada, são importadas do Japão, cujas gravadoras parecem se interessar mais pela música brasileira que as do Brasil. Por exemplo: o último catálogo de CDs brasileiros publicado em Tóquio tem 230 páginas, cada uma delas exibindo capa e repertório de quatro CDs. Portanto, são quase mil disponíveis para o público de lá, dos quais apenas uma pequena parte a loja importou. Por quê?

Pedro Otávio Tibau, gerente de compras da Modern Sound, responde: "Pertence à Universal a maior parte dos discos que os japoneses estão lançando, a maioria dos selos Elenco e Philips. Mas a Universal só se interessa por relançar um disco com a garantia de comprarmos algo em torno de dez mil exemplares." Impossível. O gerente lembra ter havido um tempo em que três mil discos eram um bom negócio. "Caetano, Milton, outros artistas desse nível não vendiam mais que isso e assim mesmo gravavam. Davam prestígio."

As gravadoras tinham seus Amados Batistas, seus Reginaldos Rossis, mas também se interessavam por quem não vendia tanto. Há um ano, a Universal prometeu ir lançando aos poucos em CD os LPs clássicos de seu catálogo. Até agora, nada. Os japoneses costumam aproveitar esse desinteresse para dominar o mercado. Exemplo: há cinco anos, eles tinham o melhor catálogo de rock progressivo. Hoje, como a Coréia passou a produzir em massa esses CDs, os japoneses recuaram. Sabendo que o Brasil não cuida de seu próprio catálogo, investe na bossa nova, na MPB, no samba, no choro.

"É triste vender a R$ 72 o que poderia custar três vezes menos", lamenta Tibau. O Japão também lança CDs ainda em catálogo no Brasil, mas com bônus: pelo menos uma das faixas do relançamento é inédita por aqui.