A música eletrônica brasileira fora do gueto

A Trama lança a coletânea AMP Brasil, reunindo os grandes nomes cena eletrônica nacional, em show que acontece na USP (São Paulo) e transmitido ao vivo pela MTV

Tom Cardoso
15/12/2000
Música eletrônica para todos os gostos. É o que se pode ouvir na coletânea AMP Brasil ouvir 30s, apresentada à imprensa durante uma entrevista coletiva em São Paulo. O disco, que leva o título de um programa da MTV dedicado ao gênero, é mais uma investida de peso da gravadora Trama e de seu selo SambaLoco, que lutam para tirar do gueto a chamada nova música brasileira.

O CD, que será apresentado ao público nesta sexta-feira, dia 15, a partir das 22 horas, num grande show na Faculdade de Odontologia da USP, em São Paulo (e transmitido ao vivo pelos sites das MTVs Brasil, Europa e Latina), é aguardado com ansiedade pelos músicos, DJs e produtores, que há anos lutam para fortalecer a cena eletrônica nacional, hoje ainda um tanto dependente do mercado internacional.

"Sabemos que nunca vamos assistir a um DJ tocando trance no Programa da Xuxa, mas podemos conquistar uma fatia muito maior do mercado da que temos hoje", se entusiasma o produtor Bruno E., diretor artístico do SambaLoco e também presente na coletânea, com a faixa São Paulo, fruto de seu projeto O Discurso. "O que falta mesmo é uma rádio totalmente dedicada ao gênero, pois estrutura a gente tem, com boas casas noturnas e raves lotadas de adolescentes".

Se depender dos nomes reunidos na coletânea e das vertentes apresentadas (techno, house, drum’n bass e trance), o CD AMP Brasil já pode ser considerada uma enciclopédia da musica eletrônica brasileira. Todas as grandes feras do gêneros deram sua canja - os DJs Patife, Marky, Rica Amaral, as duplas Drumagick (dos irmãos Jr. Deep e Guilherme Lopes), 2Freakz (de Camilo Rocha e Yah!) AD (de Jarbas Agnelli e Waldo Denuzzo) e o grupo Influx, este uma das boas revelações da cena.

Sucesso em Londres
O produtor iugoslavo Suba, morto o ano passado, está representado na faixa Sereia, cantada por Cibelle Cavalli, que já havia participado na mesma faixa do seu disco, São Paulo Confessions ouvir 30s. No show de sexta, Cibelle terá a companhia do percussionista João Parahyba, do Trio Mocotó, outro colaborador constante no trabalho de Suba, e de Max de Castro. Aliás, é do filho de Wilson Simonal uma das faixas mais aguardadas do disco, o remix de Patife para a sua Pra Você Lembrar, sucesso no circuito alternativo em Londres.

Patife, que hoje vive na ponte aérea São Paulo-Londres, lembra de seu entusiasmo quando ouviu pela primeira vez a música de Max. "Estava na Trama e me mostram o Samba Raro ouvir 30s(título do disco de Max) sem capa, ainda em fase de mixagem. Resolvi ouvir o disco e na mesma hora achei que podia sair algo muito legal de Pra Você Lembrar", conta o DJ, que foi apadrinhado na capital londrina por Marky, este já com o trabalho praticamente consolidado na Europa - o seu disco Audio Architecture ouvir 30svendeu 30 mil cópias por lá, um número respeitado quando se trata de música eletrônica.

Marky é da praia do drum’n bass, assim como a dupla do Drumagick, ambos responsáveis pela faixa Aí Maluco. A música foi composta por Deep e Guilherme no disco que leva o mesmo nome (lançado este ano, pela Trama) e agora remixada com sucesso por Marky. Tanto o DJ como s dois irmãos do Drumagick têm contribuído para renovar o drum’n bass, vertente até pouco tempo monopolizada pelos DJs europeus.

"Acho que o Brasil pode dar um contribuição muito grande à música eletrônica. Já somos considerados originais, renovadores", afirma Bruno E., que descarta qualquer possibilidade de uma formação de um novo movimento musical brasileiro: "A música eletrônica não é um movimento artístico, apenas uma manifestação estética."