A música instrumental sai do gueto

Série de espetáculos e casas de shows no Rio põem em destaque instrumentistas brasileiros

Nana Vaz de Castro
09/04/2001
A música instrumental, geralmente esnobada pela indústria fonográfica e relegada a segundo plano (ou a pano de fundo) no cenário cultural, ganha momentos de destaque no Rio de Janeiro. Alguns teatros e casas de shows estão colocando instrumentistas como atrações principais, e não apenas como música ambiente ou para dançar. A principal atração é o projeto Rio Sesc Instrumental, que ocupará o Sesc Rio Arte (Av. N.S. de Copacabana, 360, tel: 255-5133) todas as terças até junho, sempre às 19h30, com ingressos a R$ 10 (R$ 5 para comerciários, estudantes e maiores de 65 anos).

Dividido em módulos temáticos a cada mês, o Rio Sesc Instrumental (inaugurado semana passada com o show de lançamento do disco Cine Baronesa, de Guinga) privilegia o violão e o choro no mês de abril, os arranjadores em maio e as mulheres instrumentistas em junho.

Amanhã a festa promete ser dos violonistas, com o show de lançamento do disco do compositor Nicanor Teixeira (leia crítica e ouça trechos de áudio). Nada menos que 15 violonistas (entre eles Turíbio Santos, Jodacil Damaceno, Alexandre Gismonti, filho de Egberto, e João Rabello, sobrinho de Raphael), uma pianista (Bianca Gismonti, irmã de Alexandre), um bandolinista (Afonso Machado) e o conjunto Galo Preto subirão ao palco para tocar as composições de Nicanor, que aos 71 anos teve seu primeiro disco gravado, com a participação de 28 músicos, pela Rob Digital. Na próxima terça (17) é a vez da revelação Yamandu Costa, violonista gaúcho que vem conquistando admiradores por onde se apresenta. Entre eles, o clarinetista e compositor Paulo Moura, que será o convidado de Yamandu.

Dia Nacional do Choro
A semana seguinte tem dose dupla. Na segunda, 23, comemora-se o Dia Nacional do Choro (e aniversário de Pixinguinha), e a festa reunirá uma penca de chorões, tendo como anfitriões Zé da Velha (trombone) e Silvério Pontes (trompete), a dupla consagrada e conhecida como "a menor big band do mundo". O jornalista e pesquisador Sérgio Cabral apresentará o espetáculo. No dia seguinte, 24, a programação de abril se encerra com o conjunto Sarau, também especializado em choro, recebendo Déo Rian, César Faria, Mário Sève, Maionese da Flauta e Zezinho do Pandeiro, lendário percussionista que tem em seu currículo o privilégio de ter acompanhado Carmen Miranda.

Em maio, tendo como objeto os arranjadores, o projeto tem shows de Francis Hime (1/5), do multiinstrumentista Carlos Malta, apresentando o conjunto Coreto Urbano, formado por dez músicos (8/5), do violonista Maurício Carrilho (15/5), de Jaime Alem, o arranjador de Bethânia (22/5), e de Túlio Mourão (29/5).

O mês dedicado às mulheres musicistas é uma rara chance de provar que elas podem ser algo diferente de cantoras. Transitando por vários estilos e instrumentos, o projeto traz a pianista Delia Fischer, que se dedica principalmente ao jazz brasileiro (6/6), a cavaquinista Luciana Rabello, diretora artística do selo Acari Records, especializado em choro (13/6), a harpista Cristina Braga (20/6), ex-integrante do Opus 5 e atual Grupo Bambu, e a saxofonista Daniela Szpilman (Rabo de Lagartixa), que lança seu primeiro disco solo por um selo japonês.

O produtor Marcos Souza, responsável pela série (que começou no ano passado, quando promoveu shows com João Donato, Paulo Moura, Rildo Hora e muitos outros), exulta com a parceria com o mais novo Sesc (inaugurado no final de 2000): "sinto que o Sesc, espelhando o trabalho que fazem em São Paulo, é a salvação do Rio de Janeiro", afirma.

A afirmação não é gratuita. Também será no mesmo Sesc, nos dias 20, 21 e 22 de abril, os espetáculos dedicados ao saxofonista Victor Assis Brasil, aproveitando a data redonda de 20 anos de sua morte. Nos dois shows, uma seleção de alguns dos melhores instrumentistas nacionais (leia matéria).

Outros espaços
Mas não é só em Copacabana que a música instrumental tem seu espaço. O Mika’s Bar, em Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 122 A, tel: 267-5860), vem se destacando no cenário cultural da cidade com opções musicais que fogem ao óbvio. Em março passaram por lá shows de choro e de jazz, como o grupo Azymuth e o guitarrista Ricardo Silveira. Em abril continuam apostando na força do instrumental. Hoje e no dia 23 apresenta-se o flautista, clarinetista e saxofonista Dirceu Leitte e seu conjunto, trazendo choro para as noites de segunda. Amanhã tem o baixista mineiro Yuri Popoff, acompanhado por Marcio Bahia (bateria) e Alexandre Caldi (sopros). As próximas terças, dias 17 e 24, são do violinista Glauco Fernandes. Responsável por vários arranjos de cordas para a música pop brasileira, Glauco apresenta seu violino eletrificado acompanhado por uma banda. A última sexta e sábado do mês ficam a cargo da mini-orquestra popular Sem Batuta, que inova nos arranjos e na instrumentação, juntando violinos e cavaquinhos.

No Centro da cidade, a Sala Funarte Sidney Miller (Rua da Imprensa, 16, tel: 279-8088/279-8108) reserva as quintas-feiras de abril para o projeto Instrumental Brasileiro – Chorando na Sala. Sempre às 18h30, o conjunto Abraçando Jacaré promove uma roda de choro, com direito a convidados. A intenção é que o programa continue nos próximos meses, com outros grupos ocupando a sala.