A nova surpresa dos Titãs

Banda deixa a gravadora Warner reclamando de profissionalismo e já começa a pensar no próximo disco

Tom Cardoso
12/05/2000
Depois dos mais de dois milhões e meio de cópias vendidas nos três últimos álbuns, dos shows lotados pelo país, era de se esperar que os Titãs estivessem vivendo uma eterna lua-de-mel com sua gravadora. Nada disso. Após 16 anos na Warner, a banda paulistana já está mudando de casa. "A Warner ficou pequena para a gente", afirma o guitarrista Tony Belloto, sem disfarçar o tom melagomaníaco. "Enquanto a gente vendia 200 mil cópias não tinha problema. Mas agora precisamos de infra-estrutura, de um respaldo maior".

O grupo ainda não decidiu quem vai lançar os seus próximos discos (a Abril Music fez uma proposta oficial), mas quer da nova gravadora uma maior agressividade no mercado. "A Warner se comporta como se fosse uma gravadora independente, tem pouca penetração nas rádios. Além disso, são mais de 15 anos juntos, está mais do que na hora de a gente sair", diz Belloto. O baixista Nando Reis, que deve lançar o segundo disco solo em breve pela Warner, discorda do guitarrista: "A Warner é uma multinacional, está longe de ser uma gravadora pequena. Apenas tem passado por alguns problemas financeiros. Também não acho que tocar na rádio seja tão importante assim. A gente nunca dependeu disso para fazer sucesso."

Belloto e Nando, enfim, falam a mesma língua quando o assunto é o próximo álbum do grupo, que começa a ser gravado no começo do ano que vem, só com músicas inéditas. Para ambos, o disco vai surpreender o público e será uma resposta aos que criticaram a falta de criatividade da banda e o excesso de regravações. "Vai ser um trabalho para calar a boca de quem nos critica. No Brasil, as pessoas não lidam muito bem com o sucesso dos outros. Crítico de música só gosta de disco que vende 10 mil cópias", garante o guitarrista. "Temos várias músicas inéditas prontas e posso adiantar que esse CD será uma resposta definitiva para muita gente", diz Nando.

Montanha russa
De fato, os Titãs surpreenderam o público ao longo de sua carreira, não que isso seja necessariamente uma qualidade. Foram uma banda new brega em seus dois primeiros discos – Titãs e Televisão. Acordaram, saíram da barra da saia de Lulu Santos (o produtor do segundo disco) e surpreenderam gravando duas obras-primas – Cabeça Dinossauro e Jesus Não Tem Dentes no País dos Baguelas. Fizeram um outro bom disco, Õ Blésq Blom, e surpreenderam de novo lançando mais dois discos irregulares – Tudo ao Mesmo Tempo Agora e Titanomaquia, ambos grandes fiascos de vendagem.

No disco Tudo ao Mesmo Tempo Agora, eles exageraram na dose, compondo pérolas do tipo: "A cabeça do pau faz porra de leite/ Para tomar de manhã, no café da manhã/ E também no almoço e depois no jantar/ Amor, eu quero te ver cagar", gritava Nando em trecho da faixa Isso Para Mim É Perfume, que deixaria hoje público infanto-juvenil da banda de cabelo em pé. Quando parecia que os Titãs haviam pirado de vez, eles surpreenderam mais uma vez, gravando um disco deliciosamente pop, Domingo, que serviu para recuperar a auto-estima do grupo, naquela altura a caminho de um abismo.

Com medo de um novo fracasso, a banda se agarrou ao formato acústico, na época ainda não tão desgastado. Gravou o Acústico MTV, vendeu quase dois milhões de cópias e consolidou definitivamente o seu público. Com o moral reconquistada, era de se esperar que o grupo surpreendesse de novo, e de fato surpreendeu – os Titãs tiveram a coragem de lançar no ano seguinte mais um disco acústico (Volume 2), com uma ou outra música inédita.

Em 1999, foi anunciado um novo disco, dessa vez plugado e produzido por Jack Endino, que tinha acertado a mão em Domingo. Mas, quando era esperado, enfim, um álbum autoral da banda, lá estavam eles surpreendendo a todos, lançando O CD de covers As Dez Mais.

Férias da banda
Como já foi anunciado pelo grupo, o ano 2000 será dedicado aos projetos solos. Marcelo Fromer está morando em Portugal, mas vai continuar assinando colunas sobre futebol e gastronomia. Tony Belloto segue escrevendo o seu terceiro livro, que desta vez não terá como protagonista o seu personagem, o detetive Bellini. O baterista Charles Gavin continua fuçando os arquivos da gravadora Continental e deve relançar em CD, discos de Pepeu Gomes, Zezé Motta e A Cor do Som.

Nando Reis prepara seu terceiro disco solo, que deve chegar às lojas em agosto. Paulo Miklos também deve aproveitar para lançar o seu segundo trabalho solo – o primeiro, Paulo Miklos, foi bastante elogiado pela crítica, mas quase não foi notado pelos fãs dos Titãs. Por fim, Branco Mello e Sérgio Britto dão a partida em seus projetos solo (em 1994, na primeira vez em que os Titãs entraram em férias, eles lançaram um disco com a banda Kleiderman).

O tão prometido disco inédito deve começar a ser gravado em março de 2001. Resta saber se a banda paulistana irá manter a boa vendagem dos últimos trabalhos. "Quando fizemos o Tudo ao Mesmo Tempo Agora a gente queria, como agora, dar uma resposta aos nossos críticos. Admito que exageramos um pouco, não digo que fomos radicais, mas sim herméticos demais", diz Nando. "Hoje a gente consegue surpreender o nosso público sem assustá-lo demais".