A outra filha de Joyce mostra sua bossa

Depois de lançar disco no Japão, a cantora Ana Martins mostra o repertório em show único e faz cover das Andrew Sisters

Nana Vaz de Castro
09/08/2000
Clareana não podiam ser mais diferentes. A canção composta por Joyce em 1980 (com Maurício Maestro) em homenagem às filhas Clara e Ana embalou uma geração, e as musas, por caminhos diferentes, acabaram seguindo os passos da mãe. A primeira foi Clara Moreno, que já lançou dois discos (Clara Moreno e Mutante) e desenvolve carreira mais no exterior do que no Brasil. Desinibida, Clara não passa despercebida por onde vai. Já a irmã Ana Martins tem uma personalidade bem diferente: discreta e tranqüila. Essas características se refletem no tratamento dado ao seu primeiro disco, Futuros Amantes ouvir 30s , lançado em maio pelo selo japonês Rip Curl Records e ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

A música acabou sendo uma opção de carreira quase acidental para Ana. Quando era pequena, participava de coros infantis, fazendo backing vocals. Depois, a voz deixou de ser de criança e ela acabou se formando em Nutrição, profissão que chegou a exercer por algum tempo. Em 1994, voltou a fazer backing para um disco japonês de música brasileira para a Copa do Mundo. Foi quando conheceu o produtor japonês Yoshida, que desde então ficou atrás dela para gravar um disco, o que só acabou acontecendo agora, aos 28 anos de idade.

"O disco praticamente caiu na minha cabeça, eu não cheguei a realmente correr atrás", admite Ana. Os resultados estão sendo surpreendentes. "Minha mãe esteve agora no Japão e disse que encontrou o disco em todas as lojas, com cartazes promocionais e tudo", comemora, "mas só devo ir para lá fazer shows nos ano que vem". O disco foi gravado no Brasil porque os custos com estúdio são bem menores, sem falar na facilidade de contato com os músicos que participam.

O time de músicos, aliás, é de primeiríssima linha. Além de papai Nelson Ângelo e mamãe Joyce, estão presentes o padrasto Tutty Moreno (bateria), Marcos Suzano (percussão), Mario Adnet (violão), Sergio Santos (violão), Ricardo Costa (bateria), Steve Sacks (flauta) e Hugo Pilger (cello). João Donato faz especialíssima participação ao piano em Prossiga, parceria com Joyce. O disco ainda traz os instrumentistas japoneses Tomoko Uenishi (flauta), Tatsuji Deguchi (vibrafone), Hiroshi Fukumura (trombone) e o produtor Kazuo Yoshida (percussão).

Músicas da infância
O clima do disco é bossa nova, suave como a voz de Ana. "Minha voz dá pra esse tipo de música, mesmo", diz a cantora. Se a extensão vocal não é enorme, tampouco fazem falta os floreios vocais. O repertório é bastante adequado e baseado em escolhas pessoais da cantora. "Gravei Avarandado porque minha mãe sempre cantava essa música para eu dormir", diz, referindo-se à canção de Caetano que encerra o CD. "Tim Tim por Tim Tim (Haroldo Costa/ Geraldo Jaques) também é uma música da minha infância".

As outras faixas são A Vida Leva (Nelson Ângelo), Futuros Amantes (Chico Buarque), Na Dúvida (Sergio Santos/ Joyce), Wave (Tom Jobim), Nada Parecido com Você (versão de Ana para There Will Never Be Another You, de Gordon/ Warren), Brigas Nunca Mais (Tom/ Vinicius), Trevo de Quatro Folhas (Dixon/ Woods), a italiana Estate (Martino/ Brughetti) e Canção do Sal (Milton Nascimento).

Boa parte do disco poderá ser ouvida em uma única apresentação (por enquanto) dia 25 no Rio, no Merci Piano Bar (tel: 21 523 2886). Decidida a investir na carreira artística, Ana diversifica o repertório. Está desenvolvendo também um trabalho com as cantoras Ciça de Luna e Muísa Adnet, baseado no repertório das Andrew Sisters, trio vocal norte-americano formado por três irmãs e que estourou nos anos da Segunda Guerra ao lado de Bing Crosby com canções como Shoo-Shoo Baby e Rum and Coca-Cola. "Vamos nos apresentar no final de setembro com esse repertório anos 40", diverte-se Ana, sem no entanto fazer muitos planos. "Não tenho a menor pretensão. Por enquanto as coisas estão acontecendo", diz.