A segunda vinda de Max de Castro, o modernista
Em Orchestra Klaxon, compositor recupera espírito da Semana de 22 e junta talentos de várias gerações
Marco Antonio Barbosa
04/08/2002
"Persigo a provocação, a busca de novos caminhos. E o mais importante: com os ouvidos abertos para o mundo, para outras culturas - ainda que minha preocupação principal seja sempre com o Brasil. Quero juntar passado e presente, fazer o diálogo entre essas gerações." É com este manifesto - digno do melhor credo modernista - que Max de Castro se apresenta em 2002. E aproveita para apresentar junto Orchestra Klaxon (Trama), seu segundo álbum e sucessor de Samba Raro (2000), disco que elevou Max instantaneamente à condição de ponta-de-lança da novíssima MPB. Em sua segunda encarnação discográfica, o filho de Wilson Simonal retoma e amplia sua alquimia sonora e adiciona - ao menos conceitualmente - a iconoclastia dos modernos de 1922 à mistura. Oswald de Andrade ficaria orgulhoso.
O referencial não é gratuito nem aleatório. Klaxon era o nome da revista literária que, há 80 anos, divulgava as idéias dos modernistas brasileiros. E Max, que realmente cercou-se de uma (quase) verdadeira orquestra para gravar este novo álbum, quis ser explícito na reverência do título. "Apesar de não ser muito ligado no trabalho em si dos modernistas, tenho uma afinidade instintiva com o espírito deles, o sentimento de liberdade. Assim como eles, eu não enxergo gêneros ou estilos, fujo de classificações. Isso ficou mais claro quando resolvi, por causa mesmo desta data redonda (os 80 anos da Semana de 22) me aprofundar mais no ideário daquela turma", afirma o cantor/compositor/produtor/arranjador/multiinstrumentista. "A 'orquestra' foi um jeito que arranjei de honrar essa tradição modernista, de juntar referências antigas e novas. É meu tributo a uma linhagem de músicos que vai de Pixinguinha ao DJ Dolores", completa.
A empreitada modernista de Max acabou dando asas ao que em Samba Raro parecia apenas sugestão. No primeiro álbum, o músico imaginava juntar a tradição black brazuca dos anos 60 e 70 com a contemporaneidade eletrônica, filtradas pelo samba. Em Orchestra Klaxon o leque se abre, a começar pelas parcerias nas composições. Seu Jorge, Fred Zero Quatro e Marcelo Yuka entram representando a "jovem vanguarda" (termo cunhado por Max na vinheta que abre o álbum), enquanto Nelson Motta, Erasmo Carlos e Bernardo Vilhena fazem o contraponto geracional. Já na "orchestra" propriamente dita, Max - que gravou o disco anterior praticamente só, tocando todos os instrumentos - cercou-se de caras novas como Drumagick, Paula Lima e Patrícia Marx, mas também de nomes legendários: J.T.Meirelles, Wilson das Neves e Sérgio Carvalho, por exemplo.
"Eu tenho uma facilidade natural para esse tipo de união, entre pessoas de histórias muito diferentes. Isso está na minha personalidade, na minha maneira de misturar estilos musicais. Meu vocabulário musical me permite conversar com o (J.T.)Meirelles da mesma forma que eu converso com o Yuka", exemplifica Max. Ele vai além: "Vivo sempre nessa luta para misturar as coisas, unir as diversas influências que tenho. Não tenho medo de ser impuro; os sons puros já existem, a graça é buscar o inusitado." Dessa busca nascem "impurezas" como Mais Uma Vez, Amor, mescla de samba-jazz com drum'n'bass; Mancha Roxa (Marcha Rancho), que de marcha não tem nada, e sim muito de r'n'b; a latinidade da dobradinha Sonho de Verão (esta com Nelson Motta) e Acapulco, Daqui a Pouco; ou o surpreendente samba-rock A História da Morena Nua que Abalou as Estruturas do Esplendor do Carnaval , com letra de Erasmo Carlos. "Essas misturas são naturais. No (Jorge) Ben (Jor), por exemplo, você ouve samba, jazz, rock, mas tudo soa como outra coisa - e homogêneo", compara Max.
"Não chegou a haver um método para as parcerias, uma coisa pensada. A letra do Yuka (Os Óculos Escuros de Cartola), por exemplo, estava comigo há um ano e meio. Já com o Nelson (Motta), tive um encontro que foi bem legal, pois ele foi um dos primeiros a reconhecer meu talento, e é um cara com o qual sempre me identifiquei", narra Max. A colaboração com Erasmo Carlos, entretanto, parece ter tido um gostinho especial. "Eu tinha algumas músicas prontas e, quando conversei com o Erasmo para ele escrever uma letra, acabei mandando a composição mais brasileirona, o sambão mais explícito. Queria que as pessoas se lembrassem dessa veia sambista do Erasmo", diz.
O compositor fala sobre a mudança de approach, do solitário Samba Raro ao coletivo Klaxon: "No primeiro disco eu resolvi vencer a barreira da música eletrônica; era algo novo, um disco eletrônico de música brasileira, uma coisa que eu levava horas para explicar o conceito para as pessoas... Agora me sinto mais à vontade para explorar sonoridades que eu não conseguiria fazer só com a música eletrônica. Me faltava o peso. Minha intenção é sempre usar a estética (da eletrônica) junto à harmonia dos instrumentos reais, juntar o convencional e o moderno." Coordenar toda essa gente não foi problema para Max, que também assina a produção do disco. "O impacto da 'orchestra' no disco é muito maior do que o trabalho físico que tive com os músicos", conta. "Na verdade, os músicos foram integrados enquanto as canções estavam num estágio muito inicial, ainda não muito formatadas. Ninguém imaginava para que lado iria cada arranjo, nem mesmo eu; cada canção acabou saindo de um jeito."
Aos 29 anos, Max de Castro prefere se ver não como arauto de uma "nova ordem" na música brasileira. Apesar do incenso derramado pela crítica e fãs ilustres como Ed Motta, Frejat e Leandro Lehart. "Não existe essa de 'salvador', rejeito o papel de porta-voz. O que está havendo, sim, é uma conjunção de fatores. Uma nova geração que tem o que dizer, trabalhos com ressonância. Tem de haver é diversidade, personalidades até contraditórias. Há muitos nomes - Yamandú Costa, Rappin'Hood, os Artistas Reunidos. Sou só uma voz a mais no conjunto - apesar de já sentir cobranças de algumas pessoas", reflete Max. Mesmo após toda a consagração - e da famigerada capa da revista Time que o citava como o grande talento da música brasileira no terceiro milênio - o compositor prefere se olhar sob perspectiva crítica. "O negócio está tomando forma. Eu só estou ajudando", afirma.
O referencial não é gratuito nem aleatório. Klaxon era o nome da revista literária que, há 80 anos, divulgava as idéias dos modernistas brasileiros. E Max, que realmente cercou-se de uma (quase) verdadeira orquestra para gravar este novo álbum, quis ser explícito na reverência do título. "Apesar de não ser muito ligado no trabalho em si dos modernistas, tenho uma afinidade instintiva com o espírito deles, o sentimento de liberdade. Assim como eles, eu não enxergo gêneros ou estilos, fujo de classificações. Isso ficou mais claro quando resolvi, por causa mesmo desta data redonda (os 80 anos da Semana de 22) me aprofundar mais no ideário daquela turma", afirma o cantor/compositor/produtor/arranjador/multiinstrumentista. "A 'orquestra' foi um jeito que arranjei de honrar essa tradição modernista, de juntar referências antigas e novas. É meu tributo a uma linhagem de músicos que vai de Pixinguinha ao DJ Dolores", completa.
A empreitada modernista de Max acabou dando asas ao que em Samba Raro parecia apenas sugestão. No primeiro álbum, o músico imaginava juntar a tradição black brazuca dos anos 60 e 70 com a contemporaneidade eletrônica, filtradas pelo samba. Em Orchestra Klaxon o leque se abre, a começar pelas parcerias nas composições. Seu Jorge, Fred Zero Quatro e Marcelo Yuka entram representando a "jovem vanguarda" (termo cunhado por Max na vinheta que abre o álbum), enquanto Nelson Motta, Erasmo Carlos e Bernardo Vilhena fazem o contraponto geracional. Já na "orchestra" propriamente dita, Max - que gravou o disco anterior praticamente só, tocando todos os instrumentos - cercou-se de caras novas como Drumagick, Paula Lima e Patrícia Marx, mas também de nomes legendários: J.T.Meirelles, Wilson das Neves e Sérgio Carvalho, por exemplo.
"Eu tenho uma facilidade natural para esse tipo de união, entre pessoas de histórias muito diferentes. Isso está na minha personalidade, na minha maneira de misturar estilos musicais. Meu vocabulário musical me permite conversar com o (J.T.)Meirelles da mesma forma que eu converso com o Yuka", exemplifica Max. Ele vai além: "Vivo sempre nessa luta para misturar as coisas, unir as diversas influências que tenho. Não tenho medo de ser impuro; os sons puros já existem, a graça é buscar o inusitado." Dessa busca nascem "impurezas" como Mais Uma Vez, Amor, mescla de samba-jazz com drum'n'bass; Mancha Roxa (Marcha Rancho), que de marcha não tem nada, e sim muito de r'n'b; a latinidade da dobradinha Sonho de Verão (esta com Nelson Motta) e Acapulco, Daqui a Pouco; ou o surpreendente samba-rock A História da Morena Nua que Abalou as Estruturas do Esplendor do Carnaval , com letra de Erasmo Carlos. "Essas misturas são naturais. No (Jorge) Ben (Jor), por exemplo, você ouve samba, jazz, rock, mas tudo soa como outra coisa - e homogêneo", compara Max.
"Não chegou a haver um método para as parcerias, uma coisa pensada. A letra do Yuka (Os Óculos Escuros de Cartola), por exemplo, estava comigo há um ano e meio. Já com o Nelson (Motta), tive um encontro que foi bem legal, pois ele foi um dos primeiros a reconhecer meu talento, e é um cara com o qual sempre me identifiquei", narra Max. A colaboração com Erasmo Carlos, entretanto, parece ter tido um gostinho especial. "Eu tinha algumas músicas prontas e, quando conversei com o Erasmo para ele escrever uma letra, acabei mandando a composição mais brasileirona, o sambão mais explícito. Queria que as pessoas se lembrassem dessa veia sambista do Erasmo", diz.
O compositor fala sobre a mudança de approach, do solitário Samba Raro ao coletivo Klaxon: "No primeiro disco eu resolvi vencer a barreira da música eletrônica; era algo novo, um disco eletrônico de música brasileira, uma coisa que eu levava horas para explicar o conceito para as pessoas... Agora me sinto mais à vontade para explorar sonoridades que eu não conseguiria fazer só com a música eletrônica. Me faltava o peso. Minha intenção é sempre usar a estética (da eletrônica) junto à harmonia dos instrumentos reais, juntar o convencional e o moderno." Coordenar toda essa gente não foi problema para Max, que também assina a produção do disco. "O impacto da 'orchestra' no disco é muito maior do que o trabalho físico que tive com os músicos", conta. "Na verdade, os músicos foram integrados enquanto as canções estavam num estágio muito inicial, ainda não muito formatadas. Ninguém imaginava para que lado iria cada arranjo, nem mesmo eu; cada canção acabou saindo de um jeito."
Aos 29 anos, Max de Castro prefere se ver não como arauto de uma "nova ordem" na música brasileira. Apesar do incenso derramado pela crítica e fãs ilustres como Ed Motta, Frejat e Leandro Lehart. "Não existe essa de 'salvador', rejeito o papel de porta-voz. O que está havendo, sim, é uma conjunção de fatores. Uma nova geração que tem o que dizer, trabalhos com ressonância. Tem de haver é diversidade, personalidades até contraditórias. Há muitos nomes - Yamandú Costa, Rappin'Hood, os Artistas Reunidos. Sou só uma voz a mais no conjunto - apesar de já sentir cobranças de algumas pessoas", reflete Max. Mesmo após toda a consagração - e da famigerada capa da revista Time que o citava como o grande talento da música brasileira no terceiro milênio - o compositor prefere se olhar sob perspectiva crítica. "O negócio está tomando forma. Eu só estou ajudando", afirma.